[ Prefácio | Introdução | Capítulo 1 | Capítulo 2 | Capítulo 3 | Capítulo 4 | Capítulo 5 | Considerações finais ]
1 UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. Trade and Environment Review 2013: wake up before it is too late: make agriculture truly sustainable now for food security in a changing climate. Geneva, 2013. Disponível em: <http://unctad.org/en/pages/PublicationWebflyer.aspx?publicationid=666>. Acesso em: 12 nov. 2013.
2 Financiada por diversos organismos internacionais – FAO, Global Environment Facility (GEF), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Banco Mundial, entre outros –, a IAASTD teve como objetivo principal avaliar, sob uma perspectiva global, os sistemas de geração de conhecimento, ciência e tecnologia para a agricultura e sua potencial contribuição para a erradicação da pobreza e da fome e para a melhoria da saúde humana e da qualidade de vida no meio rural. Participaram de seus debates mais de 400 especialistas, que representaram governos, instituições de pesquisa e a sociedade civil de países de todos os continentes. Disponível em: <http://www.agassessment-watch.org/>. Acesso em: 12 nov. 2013.
3 CÂMARA INTERMINISTERIAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL. A agroecologia e o direito humano à alimentação adequada: relatório de Olivier de Shutter, relator especial da ONU para direito à alimentação, apresentado ao Conselho de Direitos Humanos: décima sexta sessão: item 3 da agenda “Promoção e proteção de todos os direitos humanos, direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, inclusive o direito ao desenvolvimento”. Brasília, DF: MDS, 2012. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/noticias-1/2012/maio/LIVRO_SISAN2_web.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2013.
1 Para mais informações, veja a seção Literatura recomendada ao final desta Introdução.
2 Ver seção Sobre o "agosto agroecológico", no final desta Introdução.
1 “As CEBs se configuram como uma vertente da Igreja Católica, ligada à Teologia da Libertação e organizada durante o regime militar, que alcançou uma grande abrangência social e política no meio rural, pois se mostrava como um canal de expressão que escapava dos controles repressivos do Estado no período da Ditadura Militar. A implantação das CEBs em todo o país criou ambientes comunitários em que as famílias agricultoras redescobriram a Igreja não apenas como espaço de expressão e de renovação da fé religiosa, mas também de reflexão crítica e sistemática sobre os obstáculos sociais, políticos e econômicos impostos pelos rumos das dinâmicas de transformação no campo que se processavam à época” (SOARES-DO-BEM, 2006, p. 1150). Outras igrejas também envolveram-se com as CEBs, mas a hegemonia foi da Igreja Católica.
2 Diferentemente dos autores deste capítulo, Ehlers (1999) afirma que o outro grupo defendia a ideia de que as transformações sociais se dariam em consequência das transformações tecnológicas.
3 Padre Justino Obers, da Ordem dos Crúzios, foi professor, filósofo e bioquímico, atuou na Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG) dedicando-se a um trabalho incansável de educação ambiental, promoção da agricultura alternativa e valorização do saber local junto às populações rurais de Minas Gerais. Morou, por muito tempo, em Campo Belo, MG, e faleceu em 1992.
4 Só posteriormente a AS-PTA decidiu por ter seus próprios programas locais nas regiões Sul e Nordeste, sem abdicar de seus papéis de articuladora da Rede em âmbito nacional e, principalmente, de prestadora de apoio metodológico às demais entidades nas diferentes regiões.
5 De forma resumida, os passos da transição são: 1) melhoria da eficiência das práticas convencionais para reduzir o uso e consumo de insumos externos; 2) substituição de insumos e práticas convencionais por práticas alternativas; e 3) redesenho dos agroecossistemas (GLIESSMAN, 2000).
6 Ainda assim, foram debatidos, durante o encontro, temas relevantes para os trabalhadores, como a Campanha Nacional em Defesa dos Povos e da Floresta Amazônica (em consonância com o movimento dos povos indígenas e as organizações conservacionistas da Amazônia), o sindicalismo, a atuação das mulheres trabalhadoras rurais, etc. (ENCONTRO BRASILEIRO DE AGRICULTURA ALTERNATIVA, 1989).
7 Desde 1993, a AS-PTA já publicava a revista Agroecologia e desenvolvimento em parceria com o Clades. Para justificar a publicação da revista, mencionava uma “crise teórica e prática” na área do desenvolvimento em razão da falta de um pensamento e de uma prática que harmonizassem um crescimento econômico sustentável com a justiça social e a distribuição equitativa dos ativos produzidos (CLADES; AS-PTA, 1993). A revista continha artigos de intelectuais e técnicos das duas organizações e traduções da revista original de mesmo nome (Agroecología y desarrollo) publicada no Chile.
8 <http://www.agroecologia.org.br>.
9 Atualmente, a ANA é uma articulação de redes, organizações dos movimentos sociais, ONGs e organizações científicas.
10 Este sistema pode ser acessado em: <www.agroecologiaemrede.org.br>.
11 As entidades são: Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), Rede Alerta contra o Deserto Verde (RADV), Marcha Mundial de Mulheres e Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).
12 Contribuíram para os processos de construção da Agroecologia no Rio Grande do Sul o governo estadual de Olívio Dutra (primeiro governador petista do estado) e dois técnicos do quadro de funcionários da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural e Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Emater/RS-Ascar), Caporal e Costabeber, que eram extensionistas/pesquisadores e recém-chegados do doutorado na área de desenvolvimento sustentável (ROSSETTI; BEM, 2006).
13 Procura-se sempre usar “ABA-Agroecologia” para diferenciar de outras associações com a sigla “ABA”.
14 <www.aba-agroecologia.org.br>.
15 No momento do fechamento deste artigo já havia sido lançado pela presidenta Dilma o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), construído pela Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), composta pela sociedade civil e governo.
1 Este documento (cujo título, em tradução livre para o português, é Avaliação internacional do conhecimento agrícola, ciência e tecnologia para o desenvolvimento) é uma resposta à percepção generalizada de que, apesar das notáveis conquistas científicas e tecnológicas e da atual capacidade de melhorar a produtividade agrícola, tem-se prestado menos atenção a algumas das consequências sociais e ambientais dessas realizações. Hoje é possível refletir sobre essas consequências e definir várias opções políticas para enfrentar os desafios do futuro, talvez melhor caracterizados como a necessidade de segurança alimentar e meios de subsistência em condições ambientais cada vez mais limitadas e sistemas econômicos globalizados (IAASTD, 2008).
2 Gliessman (2005) retrata uma série de trabalhos publicados que marcam a história da Agroecologia no mundo.
3 O Clades foi criado em 1989 a partir da articulação entre 12 organizações não governamentais de Brasil, Peru e Chile. O objetivo principal do Consórcio era a difusão dos preceitos agroecológicos, estimulando a pesquisa e o intercâmbio de informações (LUZZI, 2007).
4 No sentido de Norgaard (1984).
5 Toledo (2005) e Toledo e Barrera Bassols (2008) ressaltam a importância desse saber oriundo de uma cultura camponesa. Atribuem o acúmulo de saberes à construção de uma memória biocultural, oriunda da interação secular entre sociedade e natureza. Por fim, refletem sobre a importância da memória dos seres humanos num processo de relação direta com a natureza: “A memória da espécie humana é, pelo menos, tripla: genética, lingüística e cognitiva, e se expressa na variedade e diversidade de genes, línguas e conhecimentos ou sabedorias. As duas primeiras são expressões da heterogeneidade do ser humano” (TOLEDO; BARREIRA BASSOLS, 2008, p. 13). Porém, ressaltam a perda da memória cultural ocorrida em virtude da implementação de uma agricultura industrializada.
6 “Geração de novidades” é entendida como a expressão da capacidade da ação local regulada, modificada e coordenada pelo processo de trabalho. Os estudos centrados nos atores revelam não somente a criatividade e experimentação realizada pelos agricultores, como também sua capacidade permanente para absorver e reelaborar ideias externas e tecnologias, que não pode ser caracterizada como um elemento particular pertencente ao conhecimento popular ou conhecimento científico (PLOEG et al., 2004).
7 O I EBAA ocorreu em Curitiba, PR, em 1981. O II EBAA foi realizado em Petrópolis, RJ, em 1984.
8 A consulta foi realizada no site do CNPq, no Diretório dos Grupos de Pesquisa, onde se buscaram resultados a partir da inserção do termo “Agroecologia” nos grupos de pesquisa e/ou nas linhas de pesquisas. Não há, neste momento, uma qualificação conceitual de como esses diferentes grupos compreendem a Agroecologia (CNPq, 2012).
9 Esta terminologia, relacionando Agroecologia e sistemas orgânicos de produção, era decorrência da dificuldade de entendimento político entre os diferentes ministérios do governo federal quanto à nomenclatura a ser utilizada nos cursos que vinham sendo criados.
10 Comissão Interministerial criada a partir da Portaria nº 177, de 3 de julho de 2006, composta pelos ministérios da Educação, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Desenvolvimento Agrário, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia. Sua finalidade principal é “[…] construir, aperfeiçoar e desenvolver políticas públicas para inclusão e incentivo à abordagem da Agroecologia e de sistemas orgânicos de produção nos diferentes níveis e modalidades de educação e ensino, bem como no contexto das práticas e movimentos sociais, do mundo do trabalho e das manifestações culturais” (BRASIL, 2006, p. 1).
1 A ideia é ir além do argumento de Leff (2006), quando afirma que a mudança acontecerá nos trópicos.
2 É importante apenas frisar que há divergências conceituais e ideológicas acerca dos termos “camponês” e “agricultor familiar”. Entretanto, não constitui objeto deste Capítulo refletir sobre essas questões.
3 Encontra-se apoio em Ploeg (2008), que categoriza, de maneira didática, o “divisor de águas” entre as racionalidades capitalista e camponesa. Apesar de tal distinção, a autora não separa essas estratégias de relação com a natureza. Porém, parece ficar claro que os povos camponeses, com as suas lógicas, são efetivamente os verdadeiros protagonistas de uma perspectiva mais sustentável de agricultura e de sociedade.
4 A agricultura familiar é responsável por mais de 70% da alimentação da população brasileira (AGRICULTURA…, 2006).
5 Termo utilizado para designar as localidades em que as famílias estão estabelecidas e desenvolvem suas atividades produtivas cotidianas.
6 As meninas costumam transformar as espigas de milho em bonecas em suas brincadeiras.
7 Importante esclarecer que, em muitas situações, o bom estado de conservação dos ecossistemas no Brasil se deve à existência de comunidades humanas tradicionais que desenvolveram sistemas de uso dos recursos compatíveis com a natureza. Um bom exemplo foi o que ocorreu com a Terra do Meio, habitada por várias comunidades tradicionais (indígenas e ribeirinhas), que se constitui como uma das áreas mais conservadas da Amazônia Oriental. Portanto, nem sempre a expulsão de moradores se revela como a melhor estratégia para alcançar os objetivos da conservação da natureza.
8 Esses dois eventos de violência extrema são simbólicos e ilustram a injusta correlação de forças entre o atual modelo de desenvolvimento econômico e as demandas socioambientais amazônicas.
9 Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na cidade do Rio de Janeiro, RJ, Brasil, em junho de 2012.
1 Os autores agradecem aos comentários críticos e às preciosas contribuições de João Carlos Costa Gomes, Paulo Petersen e Sergio Roberto Martins. Contudo, assumem integralmente a responsabilidade pelas ideias e proposições aqui contidas.
2 Toma-se emprestada a expressão de Víctor M. Toledo, em sua obra Ecología, espiritualidad y conocimiento: de la sociedad del riesgo a la sociedad sustentable. Embora não seja objetivo aprofundar o seu significado, cabe assinalar que se trata de um conceito em construção, com o sentido de “uma nova utopia” (TOLEDO, 2003, p. 17). Leff et al. (2002), em seu Manifiesto por la vida, também defendem que “a ética para a sustentabilidade demanda um novo pacto social. Este deve fundar-se em um marco de acordos básicos para a construção de sociedades sustentáveis que inclua novas relações sociais, modos de produção e padrões de consumo” [tradução nossa].
3 Essa premissa é assumida especialmente por autores vinculados ao Projeto Marco para la Evaluación de Sistemas de Manejo de Recursos Naturales Incorporando Indicadores de Sustentabilidad (Mesmis), cujo objetivo principal vem sendo o desenvolvimento e a disseminação de ferramentas para a avaliação da sustentabilidade de sistemas de manejo de recursos naturais. Ver, por exemplo, Astier et al. (2008).
4 “Colapso significa um declínio drástico na dimensão da população e/ou na complexidade política, econômica e social, numa área considerável e durante um período de tempo prolongado. O fenômeno dos colapsos é, assim, uma forma extrema de vários tipos de declínio menos acentuados e torna-se arbitrário decidir quão drástica pode ser a degradação dessa sociedade antes de a categorizarmos como colapso” (DIAMOND, 2005).
5 Existe a suspeita de que muitas dessas sociedades sucumbiram, pelo menos em parte, por problemas ecológicos: “os homens destruíram inadvertidamente os recursos naturais dos quais as suas comunidades dependiam” (DIAMOND, 2005).
6 A pegada ecológica (ecological footprint) é uma ferramenta que calcula as áreas de terra e água biologicamente produtivas necessárias para oferecer os recursos renováveis para o consumo humano. Essa medição também inclui o espaço para a infraestrutura e a área da vegetação necessárias para absorver o dióxido de carbono (CO2) emitido com o consumo (WWF, 2010). O conceito de ecological footprint foi desenvolvido por William Rees e Mathis Wackernagel (1994) a partir do conceito de capacidade de carga.
7 “A biocapacidade abrange terras cultiváveis para a produção de alimentos, fibras e biocombustíveis; pastagens para produtos de origem animal, como carne, leite, couro e lã; recursos pesqueiros costeiros e continentais; e florestas, que tanto fornecem madeira, como podem absorver CO2. […] [A biocapacidade] leva em consideração a área de terra disponível, bem como a produtividade da terra, medidas pela produtividade por hectare das culturas ou árvores nela inseridas” (WWF, 2010).
8 Neste ano, a pegada ecológica da humanidade foi de 18 bilhões de hectares globais (gha), ou 2,7 gha per capita, enquanto a biocapacidade da Terra foi de apenas 11,9 bilhões de gha, ou 1,8 gha per capita. Registre-se que 1 gha representa a capacidade produtiva de 1 hectare de terra de acordo com a produtividade média mundial (WWF, 2010).
9 A resiliência constitui uma das propriedades fundamentais dos agroecossistemas. Conceitualmente, se refere à manutenção da eficiência ecológico-econômica ao longo do tempo, considerando as adversidades externas, sejam naturais ou humanas, às quais os agroecossistemas são submetidos (DALY; GAYO, 1995, p. 35). Conforme Veiga e Zatz (2008, p. 72), trata-se da “capacidade de se recuperar ou de se adaptar a mudanças. Quando a resiliência de um ecossistema é rompida, isto quer dizer que ele perdeu esta capacidade e desaparecerá”.
10 Como advertem Daly e Gayo (1995, p. 33, tradução nossa), “ao analisar-se a sustentabilidade do subsistema econômico, é preciso levar em conta o cumprimento de dois princípios: que o nível de exploração do meio ambiente (extração de recursos naturais) não seja superior ao de sua regeneração; e que os níveis de emissão de resíduos (lixos) ao meio ambiente sejam equivalentes às capacidades de assimilação natural dos ecossistemas receptores”.
11 Especialmente sobre esse último ponto, ver Gomes (1999), Gomes e Rosenstein (2000) e Gomes e Borba (2004). Para esses últimos autores, “[…] pode-se dizer que o paradigma da ciência ocidental encontrou alguns de seus fundamentos no empirismo (o conhecimento obtido pela experiência repetida), no racionalismo (a redução do todo a partes pequenas para melhor estudá-las, que teve como corolário a especialização); e no positivismo (o conhecimento objetivo e verdadeiro sobre a realidade estudada e a supremacia incontestável da ciência na produção do conhecimento válido)” (GOMES; BORBA, 2004, p. 8).
12 Conceitos de agricultura sustentável são abundantes na literatura, mas uma definição clara, objetiva e complexa é apresentada pela Universidade da Califórnia (campus de Santa Cruz), dos Estados Unidos: agricultura sustentável é “aquela que reconhece a natureza sistêmica da produção de alimentos, forragens e fibras, equilibrando, com eqüidade, preocupações relacionadas à saúde ambiental, justiça social e viabilidade econômica, entre diferentes setores da população, incluindo distintos povos e diferentes gerações” (GLIESSMAN, 2000).
13 Sob o ponto de vista de divulgação científica, o termo “Agroecologia” foi difundido no Brasil notadamente a partir de 1989, com a tradução e publicação do livro de Miguel Ángel Altieri, professor da Universidade da Califórnia (campus de Berkeley), nos Estados Unidos. Essa publicação em português foi uma grande contribuição do Projeto Tecnologias Alternativas (PTA) e da Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educação (Fase). O título da obra, Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa, mostra exatamente que a Agroecologia não é sinônimo de agricultura alternativa, porém a primeira proporciona as bases científicas para o alcance da segunda. Possivelmente, apesar da provável boa intenção, algum agente de desenvolvimento rural percebeu, no simpático termo “Agroecologia”, a possibilidade de que fosse o substituto para a velha expressão “agricultura alternativa”. O fato é que, em muitos contextos no País, possivelmente por influência de assessores técnicos e agentes de desenvolvimento rural, houve uma proliferação do termo “Agroecologia” como sinônimo de um novo tipo ou um novo estilo de agricultura, sem ter havido, no entanto, nenhuma construção teórica ou argumentação minimamente razoável para justificar essa escolha. Mais tarde, o mesmo livro foi publicado pela Editora Agropecuária (ALTIERI, 2002), mas com o subtítulo já ajustado para demarcar com mais precisão o campo de estudos e a aplicação do enfoque agroecológico (Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável), pois se reconhecia que qualquer estilo de agricultura alternativa deveria estar inspirado e orientado pelo conceito de sustentabilidade.
14 “A ética para a sustentabilidade se nutre de um conjunto de preceitos, princípios e propostas para reorientar os comportamentos individuais e coletivos, assim como as ações públicas e privadas orientadas à sustentabilidade” (LEFF et al., 2002, tradução nossa). Ver também PNUMA (2002).
15 Ver, por exemplo, Gomes e Rosenstein (2000), em seu artigo A geração de conhecimento na transição agroambiental: em defesa da pluralidade epistemológica e metodológica na prática científica, bem como Veiga (1996), em seu texto Agricultura familiar e sustentabilidade.
16 “Os saberes agroecológicos são uma constelação de conhecimentos, técnicas e práticas dispersas que respondem às condições ecológicas, econômicas, técnicas e culturais de cada geografia e de cada população. Estes saberes e estas práticas não se unificam em torno de uma ciência: as condições históricas de sua produção estão articuladas em diferentes níveis de produção teórica e de ação política, que abrem o caminho para a aplicação de seus métodos e para a implementação de suas propostas. Os saberes agroecológicos se forjam na interface entre as cosmovisões, teorias e práticas” (LEFF, 2002).
17 O primeiro nível diz respeito ao incremento da eficiência das práticas convencionais para reduzir o uso e consumo de inputs externos caros, escassos e daninhos ao meio ambiente. Essa tem sido a principal ênfase da investigação agrícola convencional, da qual resultam muitas práticas e tecnologias que ajudam a reduzir os impactos negativos da agricultura convencional. O segundo nível da transição se refere à substituição de inputs e práticas convencionais por práticas alternativas. A meta é a substituição de insumos e práticas intensivas em capital, contaminantes e degradadoras do meio ambiente por outras mais benignas sob o ponto de vista ecológico. Nesse nível da transição, a estrutura básica do agroecossistema é pouco alterada, e podem ocorrer, então, problemas similares aos que se verificam nos sistemas convencionais. O terceiro e mais complexo nível da transição é representado pelo redesenho dos agroecossistemas, para que esses funcionem com base em um novo conjunto de processos ecológicos. Nesse caso, se busca eliminar as causas dos problemas que não foram resolvidos nos dois níveis anteriores. De todas as maneiras, parte-se da premissa de que, “quanto mais um agroecossistema se parece, em termos de estrutura e função, com o ecossistema da região biogeográfica em que se encontra, maior será a probabilidade de que esse agroecossistema seja sustentável” (GLIESSMANN, 2000).
18 Resiliência se refere à capacidade de manutenção da produtividade, quer seja de um campo de cultivo, de um estabelecimento agropecuário, de um estado ou de um País, diante de um choque ou estresse (CONWAY; BARBIER, 1990).
19 “A conversão de um agroecossistema a um desenho mais sustentável é um processo complexo. Não é somente a adoção de uma prática ou tecnologia nova. Não há respostas mágicas” (GLIESSMAN, 2003, tradução nossa).
1 No Brasil, mas também em muitos outros países, essa realidade pode ser observada, por exemplo, nas normas e procedimentos de fiscalização das várias instâncias (federal, estadual e municipal) da vigilância sanitária para a industrialização de alimentos. Motivo de intenso debate e controvérsia entre agricultura familiar e pequenos empreendimentos, Estado e grandes corporações, os procedimentos adotados para normatizar o processamento de alimentos poucas vezes estão baseados na preocupação com a qualidade final do produto, mas se encontram presos a uma norma centrada nas estruturas necessárias ao beneficiamento (portanto demandantes de capital para se viabilizarem), a partir da qual se pressupõe que critérios de sanidade biológica dos alimentos serão atendidos. No entanto, pouco se faz para verificar as práticas dos agentes envolvidos (sobre as quais os grandes empreendimentos têm menor controle) e a sanidade e qualidade química dos alimentos, em que a suposta inocuidade do alimento se dá pela inserção de inúmeros ingredientes químicos, que, para além do questionamento de seus efeitos à saúde humana, representam a necessidade de maiores investimentos na produção, viáveis também aos empreendimentos mais capitalizados. As alternativas desenvolvidas, por exemplo, no âmbito da agricultura familiar, para o processamento de alimentos em pequenas unidades não só não encontram respaldo para serem legalizadas, como também, mesmo provando a qualidade e inocuidade dos alimentos produzidos, resultam em produto socialmente desqualificado por não atenderem a tais ditames.
2 Assumem-se, aqui, as perspectivas de território e territorialidade apontadas por vários autores do campo da Geografia, que têm como precursor Milton Santos e que foram desenvolvidas por Rogério Haesbaert, Carlos Walter Porto-Gonçalves, entre outros. Como síntese dessa perspectiva, toma-se a concepção de território proposta por Souza (1995, p. 108) nos seguintes termos: “Em qualquer circunstância, o território encerra a materialidade que constitui o fundamento mais imediato de sustento econômico e de identificação cultural de um grupo, descontadas as trocas com o exterior. O espaço social, delimitado e apropriado politicamente enquanto território de um grupo, é suporte material da existência e, mais ou menos fortemente, catalisador cultural-simbólico – e, nessa qualidade, indispensável fator de autonomia”.
3 Lei nº 11.346, aprovada em setembro de 2006.
1 Estão-se denominando de Escola Espanhola as conceituações e reflexões advindas de Eduardo Sevilla Guzmán, Manuel Gonzáles de Molina e outros pensadores latino-americanos reunidos principalmente na Universidade de Córdoba, na Espanha.
2 O Encontro foi promovido pelas seguintes redes e movimentos: Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), Rede Alerta contra o Deserto Verde (RADV), Marcha Mundial de Mulheres e Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).