Foto: Emerson Ferreira
Claudir Lorencetti
Irno Luiz Mallmann
Mariangela dos Santos
O fumo é uma importante cultura para diversos países. Milhões de pessoas de países como China, Brasil, Estados Unidos, Índia, entre outros, dependem da fumicultura para sua sobrevivência. Os maiores produtores de fumo são China, Brasil, Índia e Estados Unidos, respectivamente. Essa ordem é modificada ao ser considerada a exportação, em que o Brasil é o maior exportador, seguido pelos EUA e pela China, respectivamente. A Tabela 1 evidencia os maiores produtores, exportadores e importadores de fumo, assim como o total mundial produzido (ESTADOS UNIDOS, 2005).
Tabela 1. Principais países produtores, exportadores e importadores de fumo, em mil toneladas.
Fonte: Estados Unidos (2005).
A produção brasileira de fumo tem variado nos últimos anos. Em 2005, as vendas para o exterior superaram 600 mil toneladas. Em 2004, foram exportadas mais de 550 mil toneladas, que geraram receita de US$ 1,49 bilhão; em 2003, chegaram a 465 mil toneladas, com receita de US$ 1,13 bilhão. Atualmente, o Brasil exporta cerca de 85% da sua produção para mais de 100 países. Entre os principais compradores estão a União Europeia (40% do total), o Extremo Oriente (23%), o Leste Europeu (13%), a América do Norte (13%) e, ainda, a África, o Oriente Médio e a América Latina. Entre todos os países, os Estados Unidos são o maior cliente (ANUÁRIO..., 2005).
Considerando apenas a Região Sul do Brasil, a safra 2005–2006 chegou a 774.767 t. O volume foi colhido, em área de 416 mil hectares, por 196.952 famílias de fumicultores nos três estados do Sul, obtendo uma produtividade média de 1.861 kg/ha. O fumo Virgínia contribuiu com 81,5% do total produzido, enquanto o Burley compreendeu 17% e o Comum, 1,5%. O maior produtor é o Estado do Rio Grande do Sul, com 50% do total, vindo, em segundo lugar, Santa Catarina, com 33%, e depois o Paraná, com 17% (ANUÁRIO..., 2006). O tabaco representa 68% da renda da propriedade, embora ocupe apenas 16,6% da área (ANUÁRIO..., 2005).
A maior parte do tabaco produzido comercialmente no mundo pertence à espécie Nicotiana tabacum. N. rustica é outra espécie que tem uso comercial, porém em pequena escala. Dentro da espécie N. tabacum, existem subdivisões, de acordo, principalmente, com o sistema de produção e os métodos de cura, visando atender as necessidades da indústria. Os principais tipos são o Flue-Cured ou Virgínia, Ligh Air-Cured incluindo o Burley e o Maryland, Dark Air-Cured, Fire-Cured, Sun-Cured, Oriental e Cigar Filler (fumos para charuto). Porém, de todos os tipos cultivados, apenas três (Virgínia – 62%; Burley – 13%; Oriental – 10%) representam cerca de 85% do total de fumo produzido no mundo.
No Brasil, são produzidos diferentes tipos de fumo, sendo divididos de acordo com os locais e sistemas de produção e, principalmente, os métodos de cura. Na Região Sul do País, são produzidos os tipos Virgínia, Burley e Galpão Comum, o último em pequena quantidade. Esses tipos são utilizados principalmente para produção de cigarros. Na Região Nordeste do Brasil, é produzido fumo para charutos, o qual se subdivide em variedades destinadas à “capa” e ao enchimento (“bucha”). Além disso, ainda é produzido fumo-de-corda, em pequena escala, em praticamente todos os estados brasileiros.
Uma planta típica de N. tabacum produz suas folhas em um caule único, ereto, com uma inflorescência terminal. A estatura de plantas, o número e tamanho de folhas variam amplamente de tipo para tipo. Os três principais tipos são: 1) Virgínia – responsável por cerca de 62% do total mundial produzido. Para esse tipo, o número e o tamanho das folhas variam muito de acordo com as condições edafoclimáticas. Porém, a arquitetura da planta e a coloração são menos variáveis, as folhas apresentam maior ângulo de inserção com o caule e uma coloração verde mais intensa, diferenciando-se facilmente do tipo Burley. Em plantio comercial, normalmente é despontado com 18 a 22 folhas, produzindo cerca de 1.900 kg/ha. A colheita é feita folha por folha, e uma lavoura normalmente é colhida em 4 a 6 “apanhas” (colheita de um determinado número de folhas no estádio de maturação fisiológica), posteriormente curadas em estufas; 2) Burley – representa cerca de 13% do total de fumo produzido no mundo. Com folhas mais eretas e verde-claras, é mais exigente em termos de nutrição. Produzido em áreas com maiores altitudes, sendo despontado com 22 a 26 folhas por planta. A produtividade média no Brasil fica em torno de 1.700 kg/ha. A colheita é feita cortando-se a planta cerca de 35 a 45 dias após o desponte, e as folhas são curadas em galpões; 3) Oriental – fumo de características aromáticas, com plantas de menor estatura e folhas bem menores quando comparadas aos tipos Virgínia ou Burley. Representa cerca de 10% do fumo produzido no mundo, com uma produtividade de aproximadamente 1.250 kg/ha. A colheita é feita de forma semelhante ao do tipo Virgínia, mas a cura é feita ao sol. Contudo, esse tipo de fumo não é cultivado no Brasil. Existem vários outros tipos de fumo, porém a expressividade é menor que os três anteriormente citados. Entre eles, pode-se destacar o Dark Air-Cured, fumos para charuto, Maryland, Galpão Comum, fumo de corda, entre outros.
A inflorescência é uma panícula terminal. As flores têm aproximadamente 5 cm de comprimento e possuem cor rosa, embora variedades de cor branca e vermelho-carmim também sejam conhecidas. As flores são hermafroditas, apresentando cinco anteras. A estrutura da flor favorece a autofecundação. A fecundação de uma flor pode resultar em um fruto com centenas de semente, chegando produzir mais de mil sementes por fruto. As sementes são de tamanho diminuto, podendo ser encontradas de 10 mil a 12 mil sementes em 1 g. Uma única planta pode produzir mais de 50 g de sementes.
Cerca de 70% das espécies de Nicotiana estão concentradas nas Américas do Sul e do Norte. Desse total, a maioria é encontrada na metade sul da América do Sul, incluindo a região dos Andes. De fato, essa área é o centro de diversificação do gênero (ONO, 1994). N. tabacum é originária provavelmente do norte da Argentina ao sudoeste da Bolívia, onde as altitudes são de médias para baixas. Ocorre em margens de florestas. Possui sementes de tamanho pequeno, sensíveis à luz para germinação, necessitando de baixa saturação de luz para fotossíntese, possuindo folhas relativamente largas e suscetíveis a geadas. É uma espécie naturalmente perene, mas cultivada como uma cultura anual (TSO, 1999). Enquanto N. rustica tem como origem provável a América do Norte (leste do Mississipi e norte do México), espécies nativas, fora do Novo Mundo, estão concentradas na Austrália, e apenas duas espécies foram encontradas fora dessa área, uma em uma ilha no sul do Pacífico e outra na África (Namíbia). Embora o gênero Nicotiana inclua numerosas espécies, é representado sem dúvida por N. tabacum, a fonte de tabaco para fumar (ONO, 1994).
No México, no leste dos EUA e no Canadá, a princípio a espécie cultivada e utilizada no princípio era N. rustica, cujas folhas são pequenas, amargas e possuem elevado teor de nicotina, a qual era destinada para fumo em cachimbos. Diversas espécies silvestres de fumo crescem naturalmente no oeste da Cordilheira dos Andes, nas Américas do Sul e do Norte, principalmente nas zonas temperadas. Essas espécies, em geral, apresentam folhas pequenas e duras, porém os nativos as usavam para fumar. Com estatura alta, folhas largas e compridas, N. tabacum era cultivada no norte e no leste da América do Sul e da América Central (BORIO, 2001).
A espécie economicamente mais importante, N. tabacum L., é considerada uma alotetraploide, com 2n=4x=48, tendo os genomas SSTT. Muitas pesquisas têm sido realizadas para determinar os prováveis genitores silvestres. Baseado na morfologia das flores, nos padrões de segregação dos cromossomos, nos dados de sequência do cloroplasto e da mitocôndria, o ancestral materno do tabaco, doador do genoma S, é creditado à espécie N. sylvestris (2n=2x=24; seção Alatae) (GERSTEL, 1963; BLAND et al., 1985; SPERISEN et al., 1991). O ancestral paterno, doador do genoma T, é controverso, podendo ser N. tomentosiformis ou N. otophora (ambos da seção Tomentosae, 2n=2x=24), ou, ainda, um tipo ancestral similar aos anteriores, mas diferente dos encontrados atualmente.
Dados isoenzimáticos (SHEEN, 1972; GRAY et al., 1974) e marcadores moleculares (BOGANI et al., 1997) e de sequenciamentos sugerem que N. tomentosiformis tem seu genoma mais semelhante ao genoma T de N. tabacum do que N. otophora. Além disso, sequência de dados de DNA ribossomal (rDNA) 18S-5.8S-26S sugere que muitas unidades de N. tabacum são de N. tomentosiformis (BORISJUK et al., 1997; VOLKOV et al., 1999; LIM et al., 2000a).
Utilização de hibridização genômica in situ (HGIS) tem sugerido que os genomas S e T podem ser distinguidos durante a metáfase no tabaco. Kento et al. (1993) e Papp et al. (1996) utilizaram o DNA genômico de N. otophora e de N. tomentosiformis como sonda, e os resultados têm revelado que o DNA genômico de N. otophora forneceu um sinal mais forte para os cromossomos do genoma T do tabaco. Entretanto, nenhuma dessas distinções foi observada por Lim et al. (2000b), os quais usaram nove sequências repetitivas clonadas, como sondas em experimentos de hibridização fluorescente in situ (HFIN), para determinar o ancestral do tabaco e as relações filogenéticas dentro da seção Tomentosae. As sondas incluíram variantes de GRD (DNA geminiviral) e de NTRS, ambos com sequências repetidas em tandem. O GRD e o NTRS são famílias de DNA altamente repetitivo encontradas no fumo. O primeiro surgiu da integração de um gene geminiviral em um ancestral da seção Tomentosae (ASHBY et al., 1997). Além disso, Lim et al. (2000b) mostraram que o arranjamento de sequências repetidas em N. tomentosiformis tem evidenciado ser mais similar ao genoma T do fumo, enquanto N. otophora apresentou muitas diferenças, revelando ausência de GRD e NTRS, ao mesmo tempo em que ambos eram encontrados em N. tomentosiformis e N. tabacum. Entretanto, existiram pequenas, mas significantes, diferenças na ocorrência e na distribuição das duas classes GRD (GRD3 e GRD53) no fumo e nos acessos de N. tomentosiformis.
A espécie N. tabacum apresenta o GRD3 no cromossomo T2 e o GRD5 no cromossomo T4, enquanto N. tomentosiformis ac. TW 142 não apresenta o GRD3 (LIM et al., 2000b). Isso indica que o GRD3 surgiu com a formação do N. tabacum. Entretanto, Murad et al. (2002) revelam que outro acesso de N. tomentosiformis, ac. NIC 479/84, GRD3 está presente no cromossomo 2, de forma semelhante ao que ocorre no cromossomo T2 do N. tabacum.
Uma terceira variante de GRD, chamada GRD53, foi isolada do clone lambda de N. tabacum e está ligada ao GRD3 em tandem (BEJARANO et al., 1996). Essa variante tem alta similaridade de sequência com o GRD3 e pouca similaridade com o GRD5. Em N. tabacum cv. 095-55, a sonda GRD53 hibridiza in situ para o locus GRD3 no cromossomo T2, para o locus GRD5 no cromossomo T4 e para sequências dispersas no cromossomo T3 (LIM et al., 2000b).
Lim et al. (2000b) mostraram que a ocorrência e a distribuição de nove sequências repetitivas em tandem no cariótipo de N. otophora foram amplamente diferentes do genoma T do fumo, enquanto N. tomentosiformis foi muito similar. A similaridade com N. tomentosiformis ac. NIC 479/84 torna menos provável que um ancestral de N. otophora tenha sido o genitor, como sugerido por algumas análises de GISH (KENTON et al., 1993) e alguns cruzamentos experimentais realizados por Gerstel (1960). A possibilidade de N. otophora ter parcialmente contribuído com o genoma T de N. tabacum, talvez via híbridos com N. tabacum ou com o ancestral N. tomentosiformis antes da alopoliploidia do fumo, pode não ter ocorrido inteiramente.
Entretanto, se isso ocorreu, nenhum sinal desse evento foi detectado na distribuição e na ocorrência de sequências repetitivas conhecidas. O que é claro, porém, é que estudos de paternidade no fumo devem usar preferencialmente o mesmo acesso, ou seja, N. tomentosiformis cv. NIC 479/84, em relação a qualquer outro acesso (MURAD et al., 2002). Lim et al. (2000b) verificaram que as pequenas diferenças genômicas observadas entre N. tomentosiformis ac. TW142 e o genoma do fumo ocorreram no N. tabacum durante sua formação ou depois dela. Por exemplo, pensava-se que as sequências GRD3 e GRD53 eram únicas para o fumo, mas Murad et al. (2002) mostraram que isso não é verdadeiro, visto que elas estão presentes em um acesso de N. tomentosiformis e ausentes em outros. Todavia, GRD3 e GRD53 provavelmente surgiram em certas populações de plantas de N. tomentosiformis como um segundo evento de integração viral independente, ou talvez por meio de translocações de sequências e amplificações associadas com modificações de sequências. Independentemente do que ocorreu, plantas de N. tomentosiformis dessas populações provavelmente deram origem à espécie N. tabacum.
Nesse sentido, especula-se que o tabaco tenha surgido há mais de 6 milhões de anos (OKAMURO; GOLDBERG, 1985). Muitos trabalhos conduzidos no intuito de produzir plantas de fumo a partir de cruzamentos dos prováveis ancestrais têm revelado problemas, porque cruzamentos entre tais espécies têm conduzido à letalidade no estádio de plântula (MARUBASHI et al., 1999). Esse insucesso deve-se, provavelmente, à alta divergência genética entre as espécies parentais diploides. É estimado que N. tomentosiformis e N. sylvestris tiveram ancestrais comuns há 70 milhões de anos (UCHIYAMA et al., 1977). A linha Th37 representa uma das tentativas bem-sucedidas de reconstruir o fumo (SKALICKÁ et al., 2005).
Estudos utilizando a linha Th37 sugerem que o rDNA evolui rapidamente nas plantas sintéticas de fumo dentro de poucas gerações. As mudanças são marcadas por uma abundância alterada de famílias de genes, incluindo a perda de famílias e a evolução de unidades ou, alternativamente, a amplificação de unidades raras (SKALICKÁ et al., 2005).
No material híbrido, não existe evidência de conversão de genes intergenômicos (entre os genomas T e S), como observado em fumo natural. É provável que a conversão de genes interlocos entre os genomas contraste com a conversão de genes intragenômicos seja menor e requeira muito mais gerações para serem observadas do que tem ocorrido no fumo sintético (SKALICKÁ et al., 2005). Isso pode ser confirmado pelos estudos na alopoliploidia sintética de Gossypium, que mantiveram a identidade parental das unidades de rDNA (WENDEL et al., 1995).
Apesar das pequenas mudanças no balanço das unidades das famílias derivadas de N. sylvestris nas plantas híbridas, muitas mudanças foram observadas nas unidades derivadas de N. tomentosiformis. Existem diversas explicações para isso: a conversão de genes das unidades de rDNA pode ser genômico específico ou dependente da origem dos genitores. A hipótese de interação citoplasmática de Gill (1991) sugere que o doador paterno pode ser mais vulnerável a mudanças genéticas em um híbrido novamente formado, por causa da sua exposição ao ambiente “hostil” do citoplasma materno. Certamente, muitas sequências específicas repetidas, não transcritas para o genoma paterno de N. tomentosiformis, têm sido perdidas em muitas das plantas híbridas (SKALICKÁ et al., 2003).
Nicotiana é um membro da família Solanaceae, distribuído principalmente no Hemisfério Sul, e inclui 66 espécies conhecidas (ONO, 1994). Essas espécies, que compõem o gênero Nicotiana, são subdividas em três subgêneros (Rustica, Tabacum e Petunioides) e em 14 seções. O número básico de cromossomos é x=12, e cerca de 50% das espécies conhecidas apresentam 2n=2x=24. A alopoliploidia foi um mecanismo importante na evolução do gênero, no qual 11 das espécies conhecidas apresentam 2n=4x=48. A taxonomia do gênero Nicotiana, com suas subdivisões, incluindo subgênero, seção, nome científico e número cromossômico de cada espécie, é apresentada na Tabela 2 (ONO, 1994). Um grande número de anfiploides tem sido produzido, seja por meio de cruzamentos naturais seja por meios artificiais. A espécie economicamente mais importante, N. tabacum L., é considerada uma alotetraploide, com 2n=4x=48.
Tabela 2. Classificação do gênero Nicotiana.
Subgênero |
Seção |
Espécie |
Número de cromossomos (2n) |
---|---|---|---|
Rustica |
Paniculatae |
N. glauca Graham |
24 |
N. paniculata L. |
24 |
||
N. knightiana Goodspeed |
24 |
||
N. solanifolia Walpers |
24 |
||
N. benavidesii Goodspeed |
24 |
||
N. cordifolia Philippi |
24 |
||
N. raimondii Macbride |
24 |
||
Thyrsiflorae |
N. thyrsiflora Bitter ex Goodspeed |
24 |
|
Rusticae |
N. rustica L. |
48 |
|
Tabacum |
Tomentosae |
N. tomentosa Ruiz & Pavon |
24 |
N. tomentosiformis Goodspeed |
24 |
||
N. otophora Grisebach |
24 |
||
N. kawakamii Y. Ohashi |
24 |
||
N. setchellii Goodspeed |
24 |
||
N. glutinosa L. |
24 |
||
Genuinae |
N. tabacum L. |
48 |
|
Petunioides |
Undulatae |
N. undulata Ruiz & Pavon |
24 |
N. arentsii Goodspeed |
48 |
||
N. wigandioides Koch & Fintelmann |
24 |
||
Trigonophyllae |
N. trigonophylla Dunal |
24 |
|
Alatae |
N. sylvestris Spegazzini & Comes |
24 |
|
N. langsdorffii Weinmann |
18 |
||
N. alata Link & Otto |
18 |
||
N. forgetiana Hort. ex Hemsley |
18 |
||
N. bonariensis Lehmann |
18 |
||
N. longiflora Cavanilles |
20 |
||
N. plumbaginifolia Viviani |
20 |
||
Repandae |
N. repanda Willdenow ex Lehmann |
48 |
|
N. stocktonii Brandegee |
48 |
||
N. nesophila Johnston |
48 |
||
Noctiflorae |
N. noctiflora Hooker |
24 |
|
N. petunioides (Grisebach) Millán |
24 |
||
N. acaulis Spegazzini |
24 |
||
N. ameghinoi Spegazzini |
24 |
||
Acuminatae |
N. acuminata (Graham) Hooker |
24 |
|
N. pauciflora Remy |
24 |
||
N. attenuata Torrey ex Watson |
24 |
||
N. longibracteata Philippi |
24 |
||
N. miersii Remy |
24 |
||
N. corymbosa Remy |
24 |
||
N. linearis Philippi |
24 |
||
N. spegazzinii Millán |
24 |
||
Bigelovianae |
N. bigelovii (Torrey) Watson |
48 |
|
N. clevelandii Gray |
48 |
||
Nudicaules |
N. nudicaulis Watson |
48 |
|
Suaveolentes |
N. benthamiana Domin |
38 |
|
N. umbratica Burdidge |
46 |
||
N. cavicola Burdidge |
46 |
||
N. debneyi Domin |
48 |
||
N. gossei Domin |
36 |
||
N. amplexicaulis Burdidge |
36 |
||
N. maritima Wheeler |
32 |
||
N. velutina Wheeler |
32 |
||
N. hesperis Burdidge |
46 |
||
N. occidentalis Wheeler |
42 |
||
N. simulans Burdidge |
40 |
||
N. megalosiphon Heurck & Mueller |
40 |
||
N. rotundifolia Lindley |
44 |
||
N. excelsior J. M. Black |
38 |
||
N. suaveolens Lehmann |
32 |
||
N. ingulba J. M. Black |
40 |
||
N. exigua Wheeler |
32 |
||
N. goodspeedii Wheeler |
40 |
||
N. rosulata Domin |
40 |
||
N. fragans Hooker |
48 |
||
N. africana Merxmüller |
46 |
Fonte: ONO (1994).
Embora o número básico de cromossomos seja x=12, aneuploides assim como anfiploides têm revelado importante papel na evolução do gênero Nicotiana, evidenciado pela ocorrência de espécies com x=9 e 10, na seção Alatae, e x=16, 19, 21 e 23 pares de cromossomos, na seção Suaveolentes (Tabela 2). Isso pode ter ocorrido pela perda de cromossomos durante o processo evolutivo.
Borio (2001) apresenta uma extensa revisão sobre a história antiga e recente do tabaco. Segundo o autor, historiadores acreditam que o fumo começou a ser cultivado há mais de 6.000 anos a.C. Também é provável que os aborígines Aguaruna peruanos tenham usado o fumo de formas variadas, como para fumar, mascar e, provavelmente, em cerimônias alucinogênicas. Nesse período, o fumo já se disseminava pela América. Entre os anos de 470 e 630, os Maias começaram a se difundir, alguns se mudaram para o Vale do Mississippi, levando consigo o costume da utilização do fumo.
Os Toltecs, a exemplo dos Maias, adquiriram costume de fumar. Duas castas de fumadores surgiram entre eles. Uma superior, na Corte de Montezuma, que misturava o fumo a resinas de outras folhas, fumando cachimbos em grandes cerimônias depois das suas refeições. Outra, formada pelos índios inferiores, que enrolavam folhas de fumo, produzindo uma forma rude de cigarro. Os Maias que colonizaram o Vale do Mississipi disseminaram seus costumes pelas tribos vizinhas. Mais tarde, adaptaram a fumaça do cigarro às suas cerimônias religiosas, acreditando que seu deus, o todo-poderoso Manitou (força espiritual entre os indígenas), revelava-se no surgimento da fumaça. Dessa forma, na América Central, um sistema complexo de rituais religiosos e políticos foi desenvolvido em torno do fumo.
De 600 a 1000 d.C., tem-se o registro da primeira imagem de um fumante (Uaxactun, Guatemala). Em um vaso de argila, datado de antes do século 11, um Maia é pintado fumando um rolo de folhas de fumo amarradas com um barbante. O termo usado pelos Maias para o cigarro era Sik’ar.
A história escrita do fumo começa em 12 de outubro de 1492, quando Cristóvão Colombo chegou a São Salvador. Naquela manhã, Colombo e seus homens desembarcam no Novo Mundo pela primeira vez. Pensando, talvez, que os estranhos visitantes fossem divinos, os índios lhes ofereceram presentes. Colombo escreveu em seu diário: “os nativos trouxeram frutas, lanças e certas folhas secas, as quais possuem uma fragrância distinta. Cada item parecia muito apreciado pelos nativos.”
Colombo aceitou os presentes e ordenou que seus homens os levassem ao navio. As frutas foram consumidas, porém as folhas secas foram descartadas.
Em 15 de outubro de 1492, Colombo fez nova menção ao fumo em seu diário:
Nós encontramos um homem em uma canoa indo de Santa Maria para Fernandia. Ele portava consigo algumas folhas secas, as quais têm elevado valor entre eles pela quantidade que foi trazida a mim em São Salvador.
Mais tarde, viajantes descobriram que o uso do fumo era muito comum no Novo Mundo, e evidências sugeriam que isso estava ocorrendo há séculos. Tais evidências indicavam que o fumo era cultivado desde o sul do Canadá até o Brasil, e consumido na forma de charutos, de cigarros, de rapé, mascado e em cachimbos.
Em novembro de 1492, Rodrigo de Jerez e Luis de Torres notaram, nas margens do Rio Canau, que habitantes de ambos os sexos fumavam por meio de um instrumento, denominado pelos indígenas de tabaco, composto de um pequeno tubo, dividido em duas partes, de diferentes dimensões. Introduziam a mais estreita na boca para absorver o fumo e a mais larga servia para conter folhas secas de cohiba, nome dado pelos naturais da Ilha Guanahani (São Salvador) ao fumo. A maioria deles, porém, substituía o tubo pelas próprias folhas de fumo enroladas em folhas de milho, constituindo os chamados canudinhos. Rodrigo de Jerez é considerado o primeiro europeu fumante.
Em 1493, Romano Pane, um frei que acompanhava Colombo em sua segunda viagem, fez uma ampla descrição sobre o costume de fumar e de cheirar tabaco na América. Ele descreveu como os índios inalavam fumaça através de um tubo. A Pane é normalmente creditada a autoria da introdução do tabaco na Europa. Em 1497, Pane escreveu o primeiro relato do uso do tabaco nativo na Europa – De Insularium Ribitus.
Em 1518, Fernando Cortez, em viagem à América, encontrou, na Ilha de Tabago, nativos consumindo fumo. Na ocasião, Fernando Cortez colheu algumas sementes e as enviou para o imperador da Espanha, Carlos V.
Em 1559, Hernandez de Toledo, fidalgo e médico espanhol, levou sementes de São Domingos para Espanha e Portugal. Depois, João Nicot, embaixador da França junto à corte de Portugal, durante o período de 1559 a 1561, semeou-as no seu jardim. Em 1560, após ter cicatrizado uma úlcera na perna, até então incurável, remeteu algumas plantas a Paris, com destino a Catarina de Médicis, rainha da França, para auxiliar no alívio de suas enxaquecas. Em decorrência desse fato, o fumo passou a se chamar erva ou pó-da-rainha, porque essa o usava apenas pulverizado. Também se denominou Nicotiana ou erva-do-embaixador, por ter sido Nicot que o introduziu na França. Nesse tempo, era igualmente conhecida por erva-santa, em virtude das qualidades medicinais que então lhe atribuíam.
Na América, os índios acreditavam que as plantas de fumo tivessem propriedades medicinais, e eram eficazes na cura de todas as doenças, por causa da embriaguez que o hábito ocasionava. Os europeus consideravam o tabaco uma verdadeira panaceia; remédio infalível para as enxaquecas, pneumonia, chagas, raiva e servindo até como narcótico, aperitivo, etc. O cardeal de Santa Cruz, em Portugal, foi o primeiro que o enviou para Roma; nesse período, Afonso de Tarnabon, bispo de Bruges, o divulgava na França. A planta recebeu ainda, nessa época, os nomes de erva-santa-cruz e de Tarnabon.
Durante o século 16, foram realizadas várias descobertas, tais como a identificação de dois tipos de tabaco utilizados, hoje denominados de N. tabacum, um tipo de tabaco mais leve; e de N. rústica, uma espécie mais grossa, amarga e forte. Essa observação foi feita em 1530 por Bernardino de Sahagun, no México. Em 1531 e 1535, respectivamente, iniciou-se o cultivo de tabaco em Santo Domingo (Cuba) e no Canadá. Em 1548, os portugueses iniciam o cultivo comercial para exportação no Brasil. No final da década de 1560, o fumo foi introduzido na Europa, em países como França, Portugal e Espanha. Pouco tempo depois, em 1564, foi introduzido na Inglaterra. Em 1568, o francês André Thevet fez a primeira descrição escrita do uso do tabaco, fazendo menção de seu uso no Brasil. O autor também provou os efeitos da planta. Durante os anos de 1570, vários livros foram escritos sobre os usos medicinais do tabaco, como sua eficácia no combate a cólicas, a diarreias, a nefrites, a dor de dente, e a câncer, entre outros males. Nos anos de 1580, o tabaco foi introduzido em países como Turquia e Polônia. Em 1586, tem-se um dos primeiros registros de preocupação sobre o uso do tabaco, na Alemanha, onde foi chamado de erva violenta.
No século 17, os fatos mais importantes foram: a proibição do cultivo e do uso do tabaco em países como a China e a Rússia bem como o primeiro carregamento e a venda de tabaco da Virgínia (EUA) para a Inglaterra, permitindo que produtores da Virgínia entrassem no mercado mundial de tabaco sob proteção inglesa. Nesse período, o cultivo de tabaco mostrou-se um negócio altamente rentável. Em 1614, o rei da Espanha estabelece Sevilha como o centro mundial de tabaco e determina que todo tabaco produzido nas colônias espanholas da América fosse embarcado para Sevilha, que se tornou, assim, o centro mundial de fabricação de cigarros. Nessa época, o tabaco começou a ser usado como moeda em alguns estados americanos, como Virgínia e Maryland, o que durou por cerca de 200 e 150 anos, respectivamente. Em alguns países, foi instituída pena de morte para fumantes, como na Mongólia, Rússia e China. Na Turquia, por volta de 1630, quem era flagrado fumando tinha seu nariz furado com um cano de cachimbo e, em caso de reincidência, era condenado à pena de morte. Porém, todas as tentativas de restringir a distribuição e o consumo apenas elevaram o seu preço, fazendo com que o fumo passasse a valer o mesmo que a prata.
Nos anos de 1700, foi instalada a primeira fábrica de cigarros na América, no Estado de Virgínia. Em 1753, Carl Lineu descreve duas espécies de tabaco, denominando-as de Nicotiana tabacum e N. rustica. Em 1760, Pierre Lorillard estabelece em Nova York uma fábrica para processamento de fumos para cachimbo, cigarros e para mascar. P. Lorillard é a mais antiga companhia de tabaco nos EUA. Naquele século, muitas proibições cessam e o uso do tabaco cresce de forma gradual.
Durante o século 19, mais precisamente em 1805, os principais fatos relacionados ao fumo remetem para o isolamento da sua essência, a nicotina. Alguns anos mais tarde, por meio de muitos estudos realizados em torno desse alcaloide, foi descoberta sua propriedade inseticida. Naquele século, também surgiu o charuto na Espanha, que atingiu toda a Europa, os EUA e os demais continentes, sendo utilizado para demonstração de ostentação. Em 1843, o cigarro começa a ser fabricado na França e, nesse mesmo ano, foi determinada a fórmula molecular correta da nicotina. Em 1854, um comerciante de Londres chamado Philip Morris, começa a fabricar seus próprios cigarros. Em 1875, R. J. Reynolds funda a Companhia de Tabacos R. J. Reynolds para produzir fumos para mascar. Em 1894, inicia-se o cultivo de fumo no Zimbabwe.
No século 20, a partir das companhias Imperial Tobacco (Reino Unido) e Buck Duke’s American Tobacco Co. (EUA), surge mais uma das grandes companhias de cigarro, a British American Company (BAT). No Brasil, em 1903, foi fundada a Souza Cruz, que, em 1914, seria adquirida pela BAT. Na Inglaterra, em 1911, o cultivo do fumo volta a ser permitido depois de uma proibição de mais de 250 anos. Dessa forma, o consumo de cigarros aumenta e a espécie N. tabacum torna-se uma das espécies mais estudadas. Em virtude desse aumento no consumo, em 1969 são criadas áreas separadas para fumantes e não fumantes em aviões das companhias Pan American Airlines, TWA e United. Além disso, em países como EUA, Itália, Tailândia, surgem proibições ao consumo de cigarro em locais públicos; proibições essas que se espalharam mais tarde para muitos outros países.
Estudos botânicos de espécies silvestres de Nicotiana avançaram consideravelmente na metade do século 20, como resultado dos esforços do botânico americano Thomas Harper Goodspeed e de seus colaboradores, revelado em várias publicações. Plantas do gênero Nicotiana, apesar de serem destinadas para fumar, têm sido atualmente focadas em várias diferentes perspectivas, como material para pesquisas biotecnológicas. Poucas espécies foram tão estudas como N. tabacum (ONO, 1994).
Como a maioria das culturas, o melhoramento de fumo começou pela seleção de plantas adequadas ao seu propósito, ainda no princípio de sua utilização pelos nativos americanos. Para Legg e Smeeton (1999), as primeiras populações apresentavam elevada variabilidade genética em virtude de cruzamentos interespecíficos e mutações. Produtores e usuários do fumo devem ter praticado ativamente a seleção, armazenando a semente para plantios subsequentes. Essa seleção, em diversos locais, levou à obtenção dos diferentes tipos atualmente cultivados. O avanço nos conhecimentos genéticos desde o início do século 20 tem contribuído para o melhoramento além do praticado pelos agricultores.
O melhoramento passa por algumas fases fundamentais, iniciando pela definição dos objetivos do programa, pelo desenvolvimento das linhas ou híbridos e pela posterior avaliação dos mesmos. O sucesso em um programa depende essencialmente da escolha das fontes de germoplasma utilizadas, do método de melhoramento escolhido e de um eficiente procedimento de avaliação das novas constituições genéticas, visando reduzir a interferência do ambiente.
Os objetivos do programa devem indubitavelmente atender as necessidades dos produtores, da indústria e, consequentemente, dos consumidores. Aos primeiros estão relacionados caracteres de resistência a pragas e moléstias, produtividade, qualidade, facilidade de manejo e cura. À indústria interessam genótipos que apresentem alta relação lâmina/talo, folhas com características de oleosidade, elasticidade e propriedades químicas que revelem aroma e sabor desejado pelos consumidores, estando livres de substâncias amargas e pungentes. Entretanto, ao se determinar os objetivos do programa, o leque não deve ser estendido ao seu extremo, ou seja, por haver vários caracteres envolvidos, o melhoramento deve ser realizado por etapas. É importante identificar os caracteres mais importantes e priorizá-los.
Os caracteres mais importantes no melhoramento do fumo envolvem: largura e número de folhas; relação lâmina/talo; estatura de plantas; produtividade; qualidade; resistência a moléstias e pragas; características organolépticas e composição química.
A determinação da largura de folhas é atribuída a dois pares de genes. Dependendo da combinação homozigota, quatro tipos de largura de folhas podem ser obtidos, cuja classificação varia do tipo 1 ao 4 e da mais estreita à mais larga, respectivamente (HUMPHREY et al., 1964).
O hábito de crescimento indeterminado, que pode produzir plantas com três a quatro metros de altura, com mais de 50 folhas, ocorre quando um gene está presente em recessividade. Plantas com essa característica são denominadas de mamute (SMITH, 1950).
Uma das metas mais importantes é o desenvolvimento de genótipos com resistência às moléstias que podem causar danos elevados à produtividade e comprometer a qualidade do produto final. As moléstias economicamente importantes no Brasil podem ser divididas em dois grupos: aquelas cuja resistência no fumo é governada por um ou por poucos genes (resistência qualitativa); e outras cuja resistência é controlada por vários genes (resistência quantitativa). No primeiro grupo, podemos citar as seguintes moléstias: TMV (tobacco mosaic virus); potivírus (potato virus Y – PVY; tobacco etch virus – TEV; tobacco vein mottle virus – TVMV); TSWV (tomato spotted wilt virus). No segundo grupo, encontram-se a murcha-bacteriana (Ralstonia solanacearum) e o amarelão (agente causal desconhecido). Em outros países destacam-se outras moléstias, como black shank (Phytophthora parasitica var. nicotianae) raças 0 e alternária (Alternaria alternata), cuja resistência no fumo é de herança qualitativa; e black shank (P. parasitica var. nicotianae) raças 1, black root rot (Thielaviopsis basicola), fusariose (Fusarium oxysporum) e o mofo-azul (Peronospora tabacina), cuja resistência é de herança quantitativa.
Com relação a pragas, os nematoides de galhas são os mais importantes, incluindo as espécies Meloidogyne incognita, M. arenaria e M. javanica.
Fontes de resistência têm sido obtidas de diversas espécies silvestres e, posteriormente, introduzidas na espécie cultivada, como N. debneyi para mofo-azul, N. longiflora para nematoides, N. glutinosa para TMV, N. tomentosiformis para potivírus, N. alata para TSWV, N. longiflora e N. rustica para fogo selvagem, entre outras.
Nos últimos anos, houve progressos expressivos no desenvolvimento de variedades com elevada produtividade, qualidade, facilidade de manejo e de cura, com resistência às principais pragas e moléstias. O aprofundamento no conhecimento da herança genética dos caracteres de importância, a identificação de fontes de germoplasma para características de resistência, bem como o desenvolvimento de técnicas biotecnológicas para identificação, introdução e seleção de caracteres em constituições genéticas superiores nas populações segregantes, têm gerado perspectivas para que o melhoramento continue produzindo genótipos mais produtivos, qualitativos, que atendam as necessidades dos produtores e da indústria.
Avanços na engenharia genética estão tornando possível o uso do tabaco como fábricas de remédios. Plantas de tabaco, utilizadas como biorreatores, poderão representar um dos mais importantes avanços na agricultura, favorecendo a produção de proteínas terapêuticas, drogas e vacinas pelas indústrias farmacêuticas e químicas.
O tabaco tem se estabelecido historicamente como um sistema modelo para estudos moleculares, e é a espécie mais amplamente utilizada para produção de proteínas usadas como fármacos em nível de pesquisa (CRAMER, 1999; FISCHER; EMANS, 2000). As principais vantagens do fumo incluem a tecnologia desenvolvida para transferência e expressão dos genes, a elevada produtividade de biomassa (podendo produzir mais de 100 mil quilogramas por hectare), o potencial para rápida produção em larga escala em virtude da elevada produção de sementes/planta, e a disponibilidade de infraestrutura para processamento (FISCHER; EMANS, 2000). Por causa desses atributos, o tabaco poderá contribuir de forma significativa na produção de grandes quantidades de produtos de interesse, envolvendo proteínas, produtos cosméticos, combustíveis, fármacos e muitos outros.
O primeiro fármaco relevante produzido em plantas foi o hormônio de crescimento humano, o qual foi expresso em plantas transgênicas de fumo, em 1986 (BARTA et al., 1986). Em 1989, o primeiro antibiótico foi expresso em plantas de tabaco (HIATT et al., 1989). A autenticidade estrutural das proteínas recombinantes derivadas foi confirmada em 1992, quando plantas foram usadas pela primeira vez para produzir uma vacina experimental contra o vírus da hepatite B. Posteriormente, o mesmo grupo mostrou que a vacina produzida em plantas de fumo e injetadas em ratos produzia resposta imune conforme o esperado (THANAVALA et al., 1995). Desde então, muitas outras proteínas têm sido produzidas em diferentes espécies. A produção de proteínas em plantas de fumo transgênico e a sua extração diretamente das folhas geralmente são em níveis reduzidos, normalmente menores que 0,1% do total de proteínas solúveis. Porém, nos últimos anos, o sistema de cloroplasto do fumo tem sido usado para expressar proteínas humanas em níveis mais elevados. Por exemplo, o hormônio de crescimento humano foi produzido em plantas de fumo transgênico, em nível superior a 7% do total de proteínas solúveis (STAUB et al., 2000), e a albumina do soro humano foi produzida em nível superior a 11% do total de proteínas solúveis (MILLAN et al., 2003).
Entretanto, as cultivares atualmente disponíveis têm sido melhorados com o objetivo de atender as necessidades do uso da planta para o hábito de fumar e não para produção de proteínas ou outros produtos relacionados. Dessa forma, existe a necessidade de desenvolvimento de cultivares adequados à produção desses novos produtos em níveis elevados, que apresentem também caracteres que possibilitem sua produção em nível de campo, como resistência a pragas e moléstias, macho-esterilidade, colheitas múltiplas, adequação à colheita mecânica, associadas à elevada produção de biomassa e com custos compatíveis.
ANUÁRIO BRASILEIRO DO FUMO 2005. Santa Cruz do Sul: Gazeta Santa Cruz. 2005. 144 p.
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