Pessegueiro

Foto: Rosa Lía Barbieri

Pessegueiro

Maria do Carmo Bassols Raseira

David Hawkins Byrne

Rodrigo Cezar Franzon

O pessegueiro, que até pouco tempo era encontrado entre os paralelos 30° e 45° de latitude N e S, hoje é cultivado nos climas subtropicais do globo – abaixo dos paralelos 30°N e S – e, em alguns casos, abaixo até de 20°, como é o caso de certas áreas da Austrália e da Tailândia. Isso foi possível graças aos programas de melhoramento genético desenvolvidos nessas regiões, tais como os programas da Austrália, do Brasil, da África do Sul, do sul dos Estados Unidos (como no sul do Texas), da Tailândia e de Taiwan. Existe no mundo 1,7 milhão de hectares plantados com essa espécie, os quais representam uma produção de, aproximadamente, 12 milhões de toneladas, 30% das quais são produzidas pela China (SOTO, 2005).

No Brasil, o pêssego e as frutas de caroço em geral mostraram uma notável expansão tanto da produção quanto do consumo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção brasileira em 2004 foi superior a 235 mil toneladas, em uma área colhida de 23.864 ha (PÊSSEGO..., 2007). O consumo per capita médio anual no País é de cerca de 1 kg, considerando-se pêssego industrializado e frutas para mesa.

O cultivo de pêssegos para mesa tem uma produtividade média de 10 t/ha a 15 t/ha (ZANETTE; BIASI, 2004). No Rio Grande do Sul, as cultivares dos tipos indústria e dupla finalidade podem produzir de 20 t/ha a 30 t/ha. É, portanto, uma ótima opção, não só para pequenas propriedades, mas também para produtores empresariais. Do ponto de vista social, é uma cultura importante, uma vez que só nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina mais de 4 mil famílias têm no pêssego a sua fonte de renda.

Classificação botânica e evolução

O pessegueiro pertence à família Rosaceae, subfamília Prunoideae, gênero Prunus L., subgênero Amygdalus, seção Euamygdalus. O gênero Prunus compreende os subgêneros Prunophora, Amygdalus, Cerasus, Padus e Laurocerasus. De acordo com Watkins (1995), Rehder, em 1940, classificou o gênero Prunus em 77 espécies. Entretanto, o número reconhecido hoje é bem maior (MOORE; BALLINGTON JUNIOR, 1990). A Figura 1 apresenta os principais subgêneros, seções e espécies cultivadas do gênero Prunus.

Figura 1

Figura 1. Principais subgêneros, seções e espécies cultivadas do gênero Prunus.

Fonte: Watkins (1995).

As cultivares comercialmente plantadas pertencem à espécie P. persica (L.) Batsch. Outras espécies de pessegueiro são: P. davidiana (Carr.) Franch., P. ferganensis (Kost & Rjab) Kov. & Kost., P. kansuensis Rehd. e P. mira Koehne. Todas são nativas da China. P. mira estende-se entre Nepal e Índia, e P. ferganensis é encontrada nos países das antigas Repúblicas Soviéticas. Entretanto, não é totalmente conhecida a variabilidade por causa da adaptação a diferentes condições geográficas e de hibridações interespecíficas (SCORZA; SHERMAN, 1996), mas essas espécies são potencialmente interessantes como porta-enxertos.

P. persica compreende três variedades botânicas: vulgaris, classificação do pêssego comumente conhecido; nucipersica, que compreende as nectarineiras; e platicarpa, na qual estão os pêssegos chatos, também conhecidos na China como peentoos ou pentao.

As hibridações mais frequentes realizadas dentro do gênero Prunus são apresentadas por Watkins (1995) – Tabela 1 –, depois de consultar e de compilar resultados de diversos autores.

Tabela 1. Subgêneros e seções mais frequentemente envolvidas em hibridações interespecíficas com espécies do gênero Prunus.

Tabela 1

Fonte: Watkins (1995).

Os ancestrais, tanto do pessegueiro quanto da amendoeira, surgiram provavelmente separados, na Ásia Central. O pêssego evoluiu no leste da Ásia Ocidental e a amendoeira evoluiu e moveu-se mais a oeste, mantendo-se, no entanto, também no centro da Ásia (WATKINS, 1995).

A transferência entre os grupos AmygdalusPrunophora e o da cerejeira raramente é direta, e é realizada, em geral, via seção Microcerasus (subgênero Cerasus). Amygdalus parece ser mais próxima de Microcerasus do que o grupo da Prunophora. Por sua vez, o pessegueiro parece ser mais próximo do centro genético de Prunus e, assim, mais próximo da ponte de Microcerasus para o grupo das cerejeiras, do que a amendoeira. A Figura 2, extraída de Watkins (1995), mostra a evolução das formas cultivadas de Prunus.

Figura 2

Figura 2. Evolução das formas cultivadas de Prunus (s-i = autoincompatível; s-f = autofértil).

Fonte: Watkins (1995).

Scorza e Okie (1991), compilando informações de diversos autores, elaboraram um quadro das espécies proximamente relacionadas com o pessegueiro, especificando aquelas que produzem híbridos, na maioria férteis ou na maioria estéreis (Tabela 2).

Tabela 2. Espécies de Prunus relatadas em hibridações com pêssego e espécies de pêssego.

Tabela 2

(1) Código para espécies de pêssego usadas como parentais: D = davidiana; F = ferganensis; K = kansuensis; M = mira; e P = persica.

(2) A = altamente relacionadas com pêssego, que produzem híbridos férteis.

(3) B = pouco relacionadas com pêssego, que produzem híbridos estéreis.

Fonte: Scorza e Okie (1991).

Citogenética

O pessegueiro é uma espécie diploide (2x=2n=16). O clássico estudo do cariótipo do pessegueiro foi realizado por Jelenkovic e Harrington (1972), os quais observaram a configuração dos cromossomos em três clones, no estádio de paquíteno. Além de avaliar o comprimento, os autores se referiram também à heterocromatina e ao tamanho, ao número e à posição dos centrômeros em relação aos braços. Os cromossomos 6 e 7 seriam os organizadores do nucléolo, que é visível na prófase (Figura 3). A Tabela 3 mostra o comprimento total e a proporção entre os braços dos cromossomos encontrados por Jelenkovic e Harrington (1972).

Figura 3

Figura 3. Célula de pessegueiro, em estádio de paquíteno, que mostra o nucléolo e os cromossomos.

Foto: Maria do Carmo Bassols Raseira

Tabela 3. Comprimento total e relação do comprimento dos braços para os oito cromossomos de P. persica.

Tabela 3

Fonte: Jelenkovic e Harrington (1972).

Origem e história

Por muito tempo acreditou-se que o pessegueiro seria originário da Pérsia, atual Irã. Hedrick (1917) faz diversas considerações a fim de esclarecer que o centro de sua origem não é a Pérsia. Em suas considerações, o autor cita, por exemplo, De Candolle (1885), que dizia que se o pessegueiro fosse nativo da Pérsia, e lá tivesse existido desde o princípio, produzindo uma fruta tão bonita e deliciosa, ele teria sido levado antes à Ásia Menor e à Grécia. Os hebreus não falaram tanto sobre pessegueiros como sobre oliveiras, marmeleiros, videiras ou romã, e muitos deles vinham dos vales do Rio Eufrates e tinham contato próximo com a Pérsia.

Hedrick (1917) cita também Frank N. Meyer, um explorador e encarregado da introdução de plantas, no United States Department of Agricultural (USDA), que, no início do século 20, viajou pela China e, ao enviar sementes, remetia com elas uma descrição explicativa. Suas descrições indicaram que todas as discretas variações em pessegueiros, conhecidas hoje, existiam, então, em estado silvestre ou em jardins, exceto pela folha vermelha (SCORZA; SHERMAN, 1996). De acordo com informação pessoal da pesquisadora chinesa Wang Lirong, também as variações com folhas vermelhas são nativas da China. Um dos princípios de Vavilov é que as espécies silvestres mostram a sua maior variabilidade no centro de origem ou muito perto dele. Assim, a grande diversidade encontrada na China é um dos argumentos para aceitá-la como local de origem do pessegueiro.

A história do pessegueiro segue passo a passo a história da agricultura. E, se o seu início está perdido na obscuridade da Antiguidade, não se pode saber também, com certeza, há quantos anos o pessegueiro é cultivado. Segundo Wang (1985), o cultivo dessa espécie data de, pelo menos, 4 mil anos.

Pesquisa na literatura chinesa mostra que o pêssego era citado centenas de anos antes da Era Cristã. Poemas de Confúcio (551–478 a.C.) mencionavam essa espécie frutífera e algumas outras. É interessante notar que os chineses atribuíam poderes miraculosos ao pêssego. Acreditavam, por exemplo, que a fruta afastava os maus espíritos ou estava relacionada à imortalidade (HEDRICK, 1917). Dr. Yamei Kin, também citado por Hedrick (1917), conta sobre alguns preconceitos existentes na China antiga, explicando que, assim como a violeta era considerada símbolo da modéstia e do recato, a flor do pessegueiro representava o oposto. Por essa razão, não era aconselhável plantar um pessegueiro próximo à janela do quarto de uma moça respeitável.

O pessegueiro veio para o Mediterrâneo através da Pérsia. Aparentemente, a espécie foi introduzida na cultura grega de 400 a 300 anos a.C. e, na romana, no primeiro século d.C. (HEDRICK, 1917). Segundo esse mesmo autor, entre os gregos, Theophrastus, em 322 a.C., referia-se ao pêssego como uma fruta da Pérsia. O autor também cita que Vergil, príncipe dos poetas latinos (79–19 a.C.), fez provavelmente a primeira referência a essa fruta na literatura romana, e que Plínio, em 79 d.C., dizia que o pêssego tinha sido importado pelos romanos, da Pérsia, pouco antes daquela data. Segundo esse mesmo pesquisador, havia na época seis variedades de pêssego. À primeira, ele se referia como ‘Persian apple’; à segunda como ‘Duracimus’, na qual estariam os melhores frutos; à terceira e à quarta como ‘Gallic’ e ‘Asiatic’, distinguidas pelos nomes dos países de origem. As últimas duas variedades de Plínio são a ‘Supernatia’, que veio da região dos sabinos, e a ‘Popularia’, que crescia em qualquer lugar (HEDRICK, 1917).

Embora os mouros tenham possivelmente introduzido essa espécie no norte da África e na Espanha, sua disseminação pelos países mediterrâneos deveu-se, principalmente, aos romanos (SCORZA; SHERMAN, 1996). O pessegueiro foi introduzido na América continental pelos conquistadores espanhóis do México e, na Flórida, em 1565, com a Fundação St. Augustine. Os portugueses provavelmente introduziram a espécie na costa leste da América do Sul (SCORZA; SHERMAN, 1996). Landraces de pessegueiros desenvolveram-se por toda a América do Norte e do Sul. Exemplos incluem os pessegueiros mexicanos, conhecidos como evergreen, que necessitam de pouco ou de nenhum frio hibernal (ACOSTA; BARRIOS, 1987 citado por SCORZA; OKIE, 1991), ou aqueles cultivados pelos índios navajos em áreas remotas do Arizona (JETT, 1979 citado por SCORZA; OKIE, 1991).

Na Figura 4, são apresentadas as rotas de dispersão do pessegueiro a partir do seu centro de diversidade, a China, assim como os ciclos de dispersão ao longo da história, os quais mostram que, nos tempos mais recentes, cultivares melhoradas em outros países vêm sendo introduzidas na Ásia.

Figura 4

Figura 4. Rotas e ciclos de dispersão do pessegueiro a partir do centro de diversidade na China.

Fonte: Byrne et al. (2000)

O pessegueiro no Brasil

No Brasil, o pessegueiro foi introduzido em 1532 por Martim Afonso de Souza, por meio de mudas trazidas da Ilha da Madeira e plantadas na Capitania de São Vicente, que corresponde ao atual Estado de São Paulo, o qual é hoje o segundo maior produtor do Brasil, precedido apenas pelo Rio Grande do Sul. Entretanto, foi neste último estado que o plantio de pessegueiros, principalmente para fins industriais, mais se desenvolveu no País.

Embora o maior impulso da indústria de processamento de pêssego tenha ocorrido a partir da década de 1960, ela é uma atividade muito antiga no Estado do Rio Grande do Sul. Segundo pesquisas de Grando (1990), foi o imigrante francês Amadeo Gustavo Gastal quem introduziu a indústria de conservas de frutas e legumes em Pelotas, em seu estabelecimento chamado Bruyères, onde também eram elaborados vinhos. Gastal foi à França em 1867, em busca de informações sobre o cultivo de frutas e para adquirir os conhecimentos técnicos necessários para beneficiá-las industrialmente. Importou da França todo o equipamento necessário e, no ano de 1878, fabricou as primeiras compotas de pêssegos.

A primeira fábrica de conservas de pêssego em calda no estado foi a Quinta Pastorello, instalada, em 1900, na Colônia Santo Antônio (GRANDO, 1990). As indústrias foram aumentando em capacidade de industrialização e, apesar de todas as crises econômicas, o Rio Grande do Sul ainda é responsável por mais de 80% da produção nacional de compota de pêssego.

Os primeiros pomares a serem explorados comercialmente situavam-se junto a duas vitivinícolas da região de Pelotas, RS. O primeiro pomar instalado pertencia a Amadeo G. Gastal. Mais tarde, Ambrósio Perret instalou o seu, juntamente com um viveiro de mudas. Perret foi um pioneiro, uma vez que introduziu e testou diversas cultivares oriundas da Europa, dos Estados Unidos, do Japão e da Austrália. Seu estabelecimento comercializava sementes e enxertos, exportando-os até mesmo para os países vizinhos (AMBROSIO PERRET & CIA. LTDA., 1937). Algumas cultivares selecionadas no viveiro Perret serviram como clones básicos no programa de melhoramento genético desenvolvido no Sul do País, como, por exemplo, a cultivar Ambrósio Perret: um dos progenitores das cultivares Magno, BR-6 e Safira.

Na Região Sul e, em particular, no Rio Grande do Sul, o cultivo do pessegueiro passou a ter maior importância a partir de década de 1960, onde, até então, mais de 80% do pêssego consumido era importado. Supõe-se que nos anos de 1940 um produtor de nome Aldrighi tenha observado que uma planta, nascida de caroços jogados ao solo com o resíduo industrial, havia se desenvolvido e era rústica, produtiva e bem adaptada. Assim, iniciou a sua multiplicação, que se estendeu por muitos anos, por meio de sementes, e essa cultivar, que recebeu o nome de ‘Aldrighi’, deu grande impulso à expansão do pessegueiro na região (SACHS; CAMPOS, 1998), e é um importante marco dessa cultura no País. A cultivar Aldrighi também se tornou um clone básico no programa de melhoramento para pêssego tipo conserva no Sul do País.

Histórico do melhoramento de pessegueiros no mundo

Durante a dispersão do pessegueiro pela Europa, populações adaptaram-se aos diversos ambientes e se constituíram em landraces selecionadas há centenas de anos por sua produtividade e resistência a estresse ambiental. Constituíram-se numa fonte de porta-enxertos, muito importante até hoje na Europa, apesar da popularidade que atualmente têm os porta-enxertos clonais (SCORZA; OKIE, 1991).

Após a Revolução Industrial, no século 16, formou-se uma classe mais próspera, que tinha grande interesse em jardins e pomares. Houve, então, uma grande expansão de fruteiras de várias espécies. Na Inglaterra, os pessegueiros eram plantados contra os muros ou até mesmo em espaços abertos. Os melhores foram logo propagados e distribuídos. Profissionais notáveis, como John Rivers, hibridizaram diversas plantas frutíferas e introduziram clones superiores da França e de outros países. Ocorreu, então, uma grande multiplicação de cultivares. Algumas foram levadas depois para as colônias. Diversas cultivares citadas na época eram, possivelmente, clonais, uma vez que os europeus já tinham, naquele tempo, conhecimentos sobre enxertia e propagação. Entretanto, houve uma confusão de nomenclatura. Outras tantas cultivares deveriam ser populações de seedlings (HESSE, 1975).

Nas colônias americanas, duas fontes principais de germoplasma básico de pessegueiro serviram para os avanços futuros, por meio de seleção. Foram eles: seedlings indígenas via México e sudeste, e as cultivares ou sementes trazidas da Inglaterra. Uma terceira fonte de germoplasma, que muito contribuiu para as cultivares que se têm hoje nos Estados Unidos (várias das quais foram utilizadas também em programas de melhoramento no Brasil), foi a ‘Chinese cling’, uma introdução vinda da China, via Inglaterra.

Inicialmente, o germoplasma era propagado nos Estados Unidos por sementes, mas, na década de 1790, já havia oferta de plantas enxertadas (HESSE, 1975).

Logo após a Guerra Civil, surgiram na Geórgia as cultivares Belle of Georgia e Elberta, provenientes de seedlings selecionados de ‘Chinese Cling’, que era macho-estéril. Em decorrência disso, não se tem certeza a respeito de qual seria o progenitor masculino das duas cultivares citadas. Também foram importantes: ‘Hiley’, um seedling de ‘Belle’ e ‘J.H. Hale’, seedling de ‘Elberta’. Algumas das cultivares plantadas ainda hoje com sucesso têm como ascendentes – há várias gerações anteriores – as cultivares J. H. Hale, Belle of Georgia, Elberta ou Chinese Cling (HESSE, 1975).

Um dos objetivos importantes do melhoramento genético do pessegueiro, para diversas regiões do globo, é a adaptação a condições de inverno ameno. O melhoramento institucional para pessegueiros de baixa e média necessidade em frio hibernal e, portanto, adaptados às condições de inverno ameno, começou em 1907 na Universidade da Califórnia (Riverside), e foi posteriormente, estendido por Weldom no Chaffey Junior College, em Ontário, Califórnia. Esses programas lançaram a cultivar Babcock, extensivamente utilizada em programas subsequentes (BYRNE et al., 2000). Mais tarde, o programa Amstrong usou ‘Babcock’ e outras cultivares para desenvolver uma série interessante de cultivares de pêssegos e de nectarinas, entre elas a ‘Springtime’, ‘Panamint’ e ‘Junegold’.

Os primeiros dois programas terminaram na época em que outros começavam nos Estados Unidos (Flórida, Califórnia, Georgia, Lousiana e Texas), no Brasil (Campinas, Taquari e Pelotas), na Índia (Saharanpur, Uttar Pradesh) e na África do Sul. O programa de Amstrong terminou nos anos de 1980 e outros foram iniciados na Califórnia (Sun World, Bakersfield), no sul da Geórgia (Attapulgus, programa em conjunto com a Universidade da Geórgia, a Universidade da Flórida e o USDA, Byron, Ga), no sul do Texas e no México (Chapingo e Queretaro).

Melhoramento de pêssegos para industrialização

O primeiro programa de melhoramento genético para condições de inverno ameno, visando à criação de cultivares de média exigência de frio, produtoras de frutas tipo conserva, foi o programa de Palo Alto (CA, USDA/Stanford University). Esse programa terminou na década de 1940, e o melhoramento visando à criação de cultivares para processamento continuou na zona mais fria, na Universidade de Davis, na Califórnia (GRADZIEL et al., 1993).

Programas de melhoramento com a mesma finalidade, mas para condições de baixo frio hibernal, começaram no fim da década de 1950 em Pelotas e, na de 1960, na África do Sul. Em 1972, foram iniciados os programas em Tatura (Victoria, Austrália) e, nos anos de 1980, passaram a ser ativos, no México, dois programas, os quais desenvolveram seleções e cultivares para dupla finalidade (BYRNE et al., 2000).

O melhoramento no Brasil

O programa de melhoramento de pessegueiro foi iniciado no Brasil em 1950, por Orlando Rigitano, no Instituto Agronômico de Campinas, São Paulo, visando à criação de cultivares adaptadas às condições desse estado. O material básico utilizado nesse programa consistiu de cultivares introduzidas da Flórida, tais como ‘Jewel’, ‘Suber’, ‘Hall´s yellow’ e ‘Angel’, e seedlings introduzidos por colonizadores portugueses a partir do século 16.

Em 1953, foi iniciado um outro programa por Sérgio Sachs, na então Estação Fitotécnica de Taquari, da Secretaria da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul. Alguns anos depois, esse programa foi transferido para a Estação Experimental de Pelotas – atual Embrapa Clima Temperado – (FELICIANO, 1979).

Na década de 1940, foi selecionada por um agricultor de sobrenome Aldrighi, em sua propriedade no Município de Pelotas, a cultivar Aldrighi, provavelmente originária de pêssegos provenientes da Argentina. Essa cultivar foi introduzida na então Estação Experimental de Pelotas (EEP), em 1955, sob a forma de sementes (caroços) coletadas na fábrica de conservas Leal Santos. Como essa cultivar era, até então, propagada por sementes, quando Sérgio Sachs iniciou o trabalho em Pelotas pôde selecionar mais de 100 clones na zona produtora de pêssegos para indústria (RASEIRA; NAKASU, 1998; FELICIANO, 1979). Esses clones, bem como cerca de 200 cultivares introduzidas, constituíram o material genético básico para o programa de melhoramento. Em 1957, milhares de sementes híbridas ou resultantes de polinizações abertas foram trazidas para a EEP, provenientes da Flórida, da Geórgia, da Carolina do Norte, da Califórnia e, principalmente, da Universidade de Rutgers, New Jersey (FELICIANO, 1979). O programa de Pelotas teve, durante muitos anos, o apoio do Dr. Leon Frederic Hough, da Universidade de Rutgers, hoje falecido, e contou também com o apoio da equipe da Estação Fitotécnica de Taquari, RS.

Mais recentemente, em Pelotas, o germoplasma do programa vem sendo enriquecido com pólen recebido da Universidade de Arkansas (EUA), do USDA (Geórgia e Califórnia), da Universidade de Davis (Califórnia), da China, de Taiwan e de germoplasma proveniente da Flórida, do Texas e da Geórgia (EUA), de Toronto, no Canadá, da Bolívia, do México e da Espanha.

Byrne et al. (2000) fizeram estudo sobre clones de fundação (clones básicos) dos programas de melhoramento para baixa e média exigência de frio, baseado em lançamentos de cultivares realizados em um período de quase 20 anos, a partir de 1976. Para o programa de criação de cultivares de polpa fundente, para consumo fresco, esses autores concluíram que, no programa de Pelotas, em 49% das cultivares estudadas havia a participação, ou a contribuição, de um dos seguintes clones: ‘Delicioso’, ‘Precoce Rosado’, ‘Admirável’ e ’15 de Novembro’; em 14% havia a participação de ‘Hawian’, ‘Peento’ ou ‘Strawbery’; e em 26%, de ‘J. H. Hale’, ‘Rio Oso Gen’, ‘Boston’ e ‘St. John’ (estes quatro últimos são de alta exigência de frio). Já no programa de São Paulo, em 36% das cultivares estudadas havia a participação de ‘Peento’, ‘Suber’, ‘Okinawa’, ‘Hawaian’ e ‘Strawbery’; em 33%, de ‘Rei da Conserva’, ‘Pérola de Itaquara’ e ‘Taichi’; e havia 19% de germoplasma de alta exigência de frio, assim distribuídos: 15% com a participação de ‘J.H. Hale’, ‘Rio Oso Gen’, ‘Boston’ e ‘St. John’; 4%, de ‘Cardinal’; e 5% de ‘Lake City’. Para o programa que visa à criação de cultivares de polpa não fundente, tipo conserva, segundo o levantamento do mesmo autor houve 26% de contribuição da cultivar Aldrighi; 15% de ‘Ambrósio Perret’; 6% de ‘Abóbora’; 5% de ‘Intermediário’ (provavelmente, descendente de ‘Aldrighi’); 15% de ‘Lake City’; 6% de ‘Amsdem’; e 5% de ‘Peento’.

Tendências no melhoramento

Há necessidade de maior número de cultivares? No mundo todo, há centenas de cultivares de pessegueiros e de nectarineiras. Os viveiros no sudeste dos Estados Unidos listam entre 50 e 150 cultivares, enquanto a California Tree Fruit Agreement lista entre 80 e 85, entre as principais cultivares de pessegueiros, e um igual número de nectarineiras. O livro publicado por W. Okie, em 1998, The USDA Handbook, descreve 700 cultivares de pessegueiros e nectarineiras, e o The Brooks and Olmo Register of Fruit and Nut Varieties (BROOKS; OLMO, 1997) lista em torno de 300 cultivares de nectarineiras e cerca de 1.000 cultivares de pessegueiro, considerando-se apenas os Estados Unidos. Entretanto, nos últimos 20 anos têm sido lançadas, anualmente, no mundo todo, entre 60 e 70 cultivares (DELLA STRADA et al., 1996; FIDEGHELLI et al., 1998).

Há necessidade de todas essas cultivares? Não, muitas são obsoletas. Então, serão necessárias mais cultivares? A resposta é sim, porque os mercados mudam, e os sistemas de produção e a localização das regiões de plantio também estão mudando.

Quem desenvolve essas cultivares? Quase 50% das variedades lançadas no mundo todo são desenvolvidas nos Estados Unidos. A Europa (principalmente a França e a Itália) é responsável por 30%. Um menor número é desenvolvido na África do Sul, na Austrália, na Ásia (principalmente na China e no Japão) e na América Latina (no México e no Brasil). Essas porcentagens têm se mantido nos últimos 20 anos. Entretanto, há um aumento das atividades de melhoramento na Ásia, na Austrália e na América Latina, assim como um interesse, em termos mundiais, de testar e de comercializar novas cultivares dos programas já estabelecidos.

Em termos mundiais, os programas públicos de melhoramento, quando comparados aos programas de iniciativa privada, têm lançado um menor número de cultivares (de 33% a 45% do total, desde 1980). O mesmo não se verifica no Brasil, onde existe apenas um programa de melhoramento de viveiro particular. Nos Estados Unidos, cerca de 50% dos programas públicos foram encerrados desde 1970. Atualmente, os programas de instituições públicas dos EUA sustentam-se com o recurso financeiro de patentes e por meio de parcerias com colaboradores privados que testam e comercializam as novas cultivares. Embora esses mecanismos estejam funcionando, levam a uma menor troca de germoplasma entre órgãos públicos.

Diversificação dos tipos de frutas

Nos anos de 1950 e no início dos anos de 1960, as nectarinas eram quase uma raridade. Hoje, no mundo todo, as nectarineiras representam ⅓ do total de novas cultivares de pessegueiros e de nectarineiras lançadas. Essa diversificação é devida à tendência dos supermercados de venderem um maior número de itens, tanto em tipos como em variedades, de uma determinada espécie frutífera. Já é possível encontrar, em alguns casos, pêssegos e nectarinas de polpa branca, amarela, ácidas ou com baixa acidez, com polpa fundente ou não fundente, com maior ou menor coloração vermelha na película. No futuro, será incluído um maior número de frutas de forma platicarpa (pentao), bem como com polpa laranja e vermelha. Como sempre, o mercado está mudando e há uma necessidade de os programas de melhoramento se adaptarem a eles.

Benefícios para a saúde

Os carotenoides e as antocianinas encontrados nos pêssegos têm propriedades antioxidantes, as quais protegem contra várias patologias, tais como: inflamações, câncer, arteriosclerose e problemas circulatórios (PRIOR; CAO, 2000; WARGOVICH, 2000). O marketing que enfatiza a saúde tem buscado incentivar o aumento do consumo de produtos in natura. Entretanto, ainda não foram desenvolvidas cultivares de pessegueiros para aumentar, especificamente, o teor desses fitoquímicos. Isso tem estimulado alguns melhoristas a buscarem o desenvolvimento de frutas com maior conteúdo de caroteno e de antocianinas (BYRNE, 2005), tanto para mercado in natura como para processamento. Além disso, desde que se tenha a cultivar apropriada essa orientação pode ir além do consumo direto da fruta e incluir o desenvolvimento de extratos que seriam fontes naturais de antioxidantes, substâncias antimicrobianas e corantes (CEVALLOS-CASALS et al., 2006).

Segurança

A preocupação com a segurança dos trabalhadores em agricultura, com a contaminação potencial do ambiente, e com a segurança dos consumidores tem conduzido os governos a editarem medidas cada vez mais restritas ao uso de produtos químicos na agricultura, bem como a promoverem o uso de estratégias alternativas para o controle de pragas e de doenças. No futuro, serão feitos testes de resíduos, em maior número e precisão, e mais severas serão as penalidades para os produtores de frutas nas quais sejam encontrados resíduos.

Uma das estratégias alternativas para que se reduza o uso de pesticidas é a utilização de cultivares resistentes a pragas e a doenças. Há exemplos, nos programas, para resistência a: podridão-parda (Brasil, Califórnia, México e Itália), oídio (México, França e Itália), pulgões (França e Itália), bacteriose (sudeste e áreas úmidas dos Estados Unidos) e sharka (Europa), entre outras (BYRNE et al., 2000). Um dos objetivos mais citados na engenharia genética é a inserção, na planta, de genes para resistência, o que poderá levar à redução da aplicação de pesticidas.

Qualidade da fruta

Ainda que seja possível assegurar uma excelente qualidade externa (tamanho e aparência) das frutas de caroço, a consistência de sua qualidade interna é pobre quando comparada à de outras espécies como uvas, maçãs e frutas cítricas. As linhas de seleção nas packing houses selecionam tamanho, cor e descartam defeitos externos, mas não selecionam a qualidade interna. Tradicionalmente, as medidas dos parâmetros de qualidade interna (firmeza, sólidos solúveis, acidez titulável) são destrutivas e, por isso, feitas por amostragem. Embora seja possível identificar, dessa forma, um lote de frutas particularmente pobre, a única forma para assegurar uma alta qualidade, de maneira consistente, é testar as frutas individualmente. Trabalhos recentes que usam métodos não destrutivos, para medir qualidade interna por sonografia e sistemas com luz infravermelha, têm se mostrado promissores. Isso possibilitará que as frutas sejam selecionadas, individualmente, por sua qualidade, e exigirá padrões de qualidade mais altos nas cultivares desenvolvidas.

A firmeza da fruta é uma característica importante para facilitar o manuseio e a comercialização. Nos Estados Unidos, as frutas comercializadas para consumo in natura são as de polpa fundente, como a maioria dos pêssegos brancos, doces e de baixa acidez encontrados no Brasil. Apesar do progresso alcançado no desenvolvimento de frutas de polpa fundente firme, grande parte dos esforços atuais está voltada para o desenvolvimento de cultivares com polpa ainda mais firme, como as produtoras de pêssegos não fundentes e de maturação lenta – stony hard e slow ripening gene – (BYRNE et al., 2000; GOFFREDA, 1999).

Pesquisas indicam que, em geral, um teor de sólidos solúveis totais (SST) inferior a 10% não é aceito pelos consumidores. Tem havido um notável progresso no desenvolvimento de pessegueiros e de nectarineiras de meia estação e tardios, produtores de frutas com alto teor de sólidos solúveis. Para essa época de maturação, busca-se a obtenção de pêssegos com 17% a 20% de SST. Infelizmente, o teor de sólidos solúveis e a precocidade de maturação são correlacionados negativamente, e é muito difícil obter pêssegos precoces com mais de 12° Brix.

À medida que são desenvolvidos pêssegos e nectarinas de alta qualidade, muitos outros aspectos precisam ser considerados, inclusive componentes aromáticos do sabor, quantidades relativas de açúcares específicos (sacarose, glucose, frutose, sorbitol), textura e acidez. Mas, como as práticas culturais (poda, adubação, irrigação e colheita) têm grande influência na qualidade final, é necessário especificar quais são as práticas mínimas para obtenção do mais alto potencial de qualidade da cultivar.

Características pós-colheita

Com a globalização do mercado, é esperado um suprimento do produto durante todo o ano. Em decorrência disso, as cultivares de frutas devem ter características adequadas para permitir seu transporte e comercialização por diversas semanas, sem perder a qualidade ou apresentarem deterioração interna (internal breakdown). Isso implica a necessidade de controlar o processo de amadurecimento.

O ideal seria um pêssego que pudesse ser colhido quando maduro, armazenado e induzido ao completar a maturação, quando colocado no mercado varejista. Há genes no pessegueiro, como o stony hard (GOFFREDA, 1992) e o slowripening – amadurecimento lento – (BRECHT; KADER, 1984), que controlam o etileno e a velocidade de maturação, à semelhança dos encontrados em tomate, cujo sistema de maturação de fruta foi muito estudado. Provavelmente é possível usar a informação disponível para outras espécies para entender e identificar os genes que controlam a maturação em pêssegos.

O problema mais comum na pós-colheita é o dano por frio, que inclui o escurecimento da polpa e a lanosidade. Ainda que se tenha dedicado muito trabalho ao controle desse problema, por meio da manipulação das condições de armazenamento (principalmente temperatura), apenas recentemente têm sido obtidos dados comparativos entre diferentes cultivares com relação a esse aspecto (CRISOSTO et al., 1999). A comparação entre cultivares é o primeiro passo para que se possa estabelecer uma técnica rápida para avaliação de seedlings, em relação aos danos que podem ocorrer durante o armazenamento. A base genética e fisiológica da conservação pós-colheita e de outras características necessita ser mais bem estudada.

Simplificação de práticas culturais

Nos últimos 20 anos, muitos estudos têm sido direcionados para o desenvolvimento de novos sistemas de condução, de controle químico do crescimento e de controle do crescimento pelo porta-enxerto. Um dos objetivos tem sido o de modificar a estrutura da planta por meio do porta-enxerto.

Os porta-enxertos variam desde aqueles que conferem à copa um tipo de crescimento padrão, mas com melhor ramificação e aumento de formação de esporões (SCORZA, 1987; GRADZIEL, 2002), até aqueles que desenvolvem cultivares com uma arquitetura de planta diferenciada (SCORZA et al., 1989). Esses novos hábitos de crescimento compreendem o anão (ou semianão), o compacto, o colunar ou o prostrado. O sistema de condução ótimo será específico para cada tipo de arquitetura de planta (BASSI et al., 1994; MILLER; SCORZA, 2002), e a comercialização pelos viveiristas de novas cultivares com esses hábitos de crescimento deve vir acompanhada de recomendações sobre a sua condução adequada.

Expansão das zonas produtoras

De acordo com dados da FAO, nos últimos 30 anos a produção de pêssegos e de nectarinas dobrou, e a maior parte desse incremento se deu nos países em desenvolvimento. A produção nos países desenvolvidos, tais como Japão, Canadá, Estados Unidos e muitos países europeus, manteve-se estável ou até decresceu nos últimos 15 a 20 anos. A China teve o maior aumento de produção (BYRNE, 2002).

Há uma tendência de aumento da produção de cultivares de média (de 350 a 650 unidades de frio) e de baixa (menos de 350 unidades de frio) necessidade de frio hibernal, tanto sob cultivo protegido (China) quanto em condições subtropicais e tropicais, tais como na América do Sul (Brasil, Bolívia, Uruguai, e Equador) e no norte da África (Algéria, Egito, Marrocos e Tunísia). Essa situação proporciona a extensão do período de colheita, antecipando-a em 30 dias ou mais, em relação àquela de regiões tradicionais de cultivo, com alto acúmulo de frio. Nos últimos 20 anos, em todo o mundo vêm sendo intensificadas as atividades em muitos programas de melhoramento para médio e baixo frio, bem como esforços adicionais tanto públicos quanto privados (BYRNE et al., 2000).

No Hemisfério Sul (Chile, África do Sul e Austrália), tem ocorrido um aumento na produção de pêssegos para que sejam comercializados no Hemisfério Norte. Apesar de, até o presente, o Chile utilizar principalmente cultivares californianas, há necessidade de cultivares mais bem adaptadas, com excelentes características pós-colheita. A África do Sul e a Austrália direcionam as atividades de melhoramento para seus mercados de exportação (BYRNE et al., 2000).

Considerações

Nos últimos 20 anos, os programas de melhoramento de pessegueiro do mundo têm lançado, anualmente, cerca de 60 a 70 novas cultivares de pessegueiros e nectarineiras, tentando acompanhar as mudanças no mercado, nas restrições relativas à produção, às práticas culturais e às novas áreas de produção. O trabalho tem sido produtivo, e podem ser observados os seguintes fatores: significativa diversificação de frutas, melhoria de qualidade, características na pós-colheita e expansão de pomares comerciais para novas áreas com distintas necessidades de adaptação. A eficiência e a consistência de produção de um produto de alta qualidade são essenciais para manter o lucro em um mercado de crescente competitividade. Muito mais deve ser feito tanto no desenvolvimento de novas cultivares como em pesquisa básica, em genética e em desenvolvimento de germoplasma, bem como em tecnologia de produção. Apesar da redução de recursos voltados para pesquisas básicas, há fatores que indicam que a capacidade de desenvolvimento de cultivares melhoradas pode ser acelerada. Entre esses fatores, podem ser destacados: os avanços recentes no mapeamento do genoma de Prunus, o uso de marcadores para seleção assistida, a melhoria nos métodos de resgate de embriões, e o entendimento da base molecular de genes que controlam a maturação e a resistência a doenças.

Perspectivas futuras

Além do melhoramento tradicional, que utiliza os processos de introdução, hibridação e seleção, diversas técnicas para manipulação de genes em pêssego, incluído uso de variação somaclonal e de transferência de genes, têm sido utilizadas recentemente, mas todas elas dependem do processo de regeneração. Esse processo é mais difícil em pessegueiro do que na maioria das demais espécies frutíferas de clima temperado. O esforço dos pesquisadores, entretanto, poderá levar a protocolos com maior índice de sucesso.

O genoma do pessegueiro é pequeno e possui cerca de 265 milhões a 295 milhões de pares de bases no genoma haploide. Esse fato, aliado ao pressuposto de que há baixo número de cópias de genes e alta incidência de polimorfismo em cultivares comerciais, torna essa espécie uma excelente candidata ao mapeamento molecular e ao desenvolvimento de um mapa saturado, no qual características morfológicas ou bioquímicas, de interesse, possam ser localizadas (SCORZA; SHERMAN, 1996). Abbott et al. (1998) desenvolveram mapa de linkage saturado em três cruzamentos, segregando para importantes caracteres agronômicos, que controlam qualidade da fruta, arquitetura da planta e características de porta-enxertos.

A caracterização de cultivares, linhagens ou híbridos, por meio de marcadores moleculares, tem sido de grande importância na proteção do direito intelectual do melhorista, e é utilizada como prova legal em processos jurídicos nos países em que já vigoram as leis de proteção de cultivares. Com a aprovação, no Brasil, da Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997), o Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ficou responsável pelo registro de novas variedades. Portanto, para que uma nova variedade seja protegida, é necessário demonstrar que ela é diferente de qualquer outra da mesma espécie. Atualmente, a proteção é obtida com base em descritores morfológicos. Entretanto, em espécies que possuem uma estreita base genética, como é o caso do pessegueiro, as novas variedades tendem a ser muito semelhantes e, muitas vezes, indistinguíveis com base nessas características. Dessa forma, frequentemente é necessária a utilização de um sistema com base em marcadores de DNA. Com a utilização de marcadores multialélicos e altamente conservados, como os microssatélites (SSR), é possível obter um padrão único para cada variedade.

Pelo exposto, pode-se verificar que o pessegueiro, desde sua origem na Ásia, foi submetido a diversos ciclos de seleção natural e artificial. Além disso, cultivares melhoradas, oriundas de outros países, estão atualmente sendo introduzidas na China. Consideráveis avanços foram obtidos com essa espécie; no entanto, muito esforço ainda terá de ser empenhado no campo do melhoramento genético de pessegueiro. Enfim, muito há ainda para ser feito no intuito de desenvolver cultivares que melhor satisfaçam necessidades e preferências do mercado consumidor.

Referências

Abbott, A. G.; Rajapakse, S.; Soninski, B.; Lu, Z. X.; Sossey-Alaoui, K.; Gammavarapis, M.; Reighand, G.; Ballard, R. E.; Baird, W. V.; Scorza, R.; Callahan, A. Construction of saturated linkage maps of peach crosses segregating for characters controlling fruit quality, tree architecture and pest resistance. Acta Horticulturae, Bordeaux, n. 465, v. 1, p. 41-50, 1998.

AMBROSIO PERRET & CIA LTDA. Plantas e sementes: preços correntes para os anos de 1937-1938. Catalogo geral discritivo das plantas fructíferas, árvores e arbustos de ornamento e sementes da Quinta Bom Retiro. Pelotas: Globo 1937. 89 p.

BASSI, D.; DIMA, A.; SCORZA, R. Tree structure and pruning response of 6 peach growth forms. Journal of the American Society for Horticultural Science, Mount Vernon, v. 119, n. 3, p. 378-382, 1994.

BRECHT, J. K.; KADER, A. A. Ethylene production by fruit of some slow ripening nectarine genotypes. Journal of the American Society for Horticultural Science, Mount Vernon, v. 109, p. 763-767, 1984.

BROOKS, R. M.; OLMO, H. P. The Brooks and Olmo register of fruit and nut varieties. Alexandria: ASHS, 1997, 744 p.

BYRNE, D. H. Peach breeding trends: a world wide perspective. Acta Horticulturae, Davis, n. 592, p. 49-59, 2002.

BYRNE, D. H.; SHERMAN, W. B.; BACON, T. A. Stone fruit genetic pool and its exploitation for growing under warm winter conditions. In: EREZ, A. (Ed.). Temperate fruit crops in warm climates. Boston: Kluwer, 2000. p. 157-230.

BYRNE, D. H. Trends in stone fruit cultivar development. Hort Technology, Alexandria, v. 15, n. 3, p. 494-500, 2005.

CEVALLOS-CASALS, B.; BYRNE, D. H.; OKIE, W. R.; CISNEROS-ZEVALLOS, L. Selecting new peach and plum genotypes rich in phenolic compounds and enhanced functional properties. Food Chemistry, Barking, v. 96, p. 273-280, 2006.

CRISOSTO, C.; MITCHELL, F.; JU, Z. Susceptibility to chilling injury of peach, nectarine, and plum cultivars. HortScience, Alexandria, v. 34, p. 1.116-1.118, 1999.

DELLA STRADA, G.; FIDEGHELLI, C.; GRASSI, F. Peach and nectarine cultivars introduced in the world from 1980 to 1992. Acta Horticulturae, Beijing, v. 374, p. 43-51, 1996.

FELICIANO, A. J. Melhoramento genético do pessegueiro no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 5., 1979, Pelotas. Anais... Pelotas: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1979. p. 1259-1274.

FIDEGHELLI, C.; DELLA STRADA, G.; GRASSI, F.; MORICO, G. The peach industry in the world: Present situation and trend. Acta Horticulturae, Bordeaux, v. 465, p. 29-39, 1998.

GOFFREDA, J. C. Stony hard gene of peach alters ethylene biosynthesis, respiration, and other ripening related characteristics. HortScience, Alexandria, v. 27, p. 122, 1992.

GOFFREDA, J. C. White-fleshed peach and apricot breeding. The Compact Fruit Tree, Napier, v. 32, p. 123-127, 1999.

GRADZIEL, T. M. Almond species as sources of new germplasm for peach improvement. Acta Horticulturae, Davis, v. 592, p. 81-88, 2002.

Gradziel, T. M.; Beres, W.; Pelletreau, K. Inbreeding in California canning clingstone peach cultivars. Fruit Varieties Journal, Urbana, v. 47, p. 160-168, 1993.

Grando, M. Z. Pequena agricultura em crise: o caso da colônia francesa no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: FEE, 1990. 209 p.

Hedrick, U. P. The peaches of New York. Albany: J. B. Lyon, 1917. 541 p.

Hesse, C. O. Peaches. In: JANICK, J.; MOORE, J. N. Advances in fruit breeding. West Lafayette: Purdue University Press, 1975. p. 285-335.

JELENKOVIC, G.; HARRINGTON, E. Morphology of the pachytene chromosomes in Prunus persica. Canadian Journal of Genetics and Cytology, Ottawa, v. 14, p. 317-324, 1972.

MILLER, S.; SCORZA, R. Training and performance of pillar, upright, and standard form peach trees – early results. Acta Horticulturae, Davis, v. 592, p. 391-399, 2002.

MOORE, J. N.; BALLINGTON JUNIOR, J. R. Genetic resources of temperate fruit and nut crops. Wageningen: International Society for Horticultural Science, 1990. 488 p.

OKIE, W. R. Handbook of peach and nectarine varieties. Washington: USDA, 1998. 808 p.

PÊSSEGO: volume comercializado. AGRIANUAL, São Paulo, p. 436-442, 2007.

PRIOR, R. L.; CAO, G. Antioxidant phytochemicals in fruits and vegetables: diet and health implications. HortScience, Alexandria, v. 35, p. 588-592, 2000.

Raseira, M. do C. B.; Nakasu, B. H. Cultivares: descrição e recomendação. In: MEDEIROS, C. A. B.; RASEIRA, M. do C. B. (Ed.). A cultura do pessegueiro. Brasília: Embrapa-SPI; Pelotas: Embrapa-CPACT, 1998. p. 29-99.

Sachs, S.; Campos, A. D. O pessegueiro. In: MEDEIROS, C. A. B.; RASEIRA, M. do C. B. (Ed.). A cultura do pessegueiro. Brasília: Embrapa-SPI; Pelotas: Embrapa-CPACT, 1998. p. 13-19.

SCORZA, R. Identification and analysis of spur growth in peach (Prunus persica L. Batsch). Journal of Horticultural Science, Ashford Kent, v. 62, p. 449-455, 1987.

SCORZA, R.; LIGHTNER, G. W.; LIVERANI, A. The pillar peach tree and growth habit analysis of compact X pillar progeny. Journal of the American Society for Horticultural Science, Mount Vernon, v. 114, p. 991-995, 1989.

SCORZA, R.; OKIE, W. R. Peaches (Prunus). In: MOORE, J. N.; BALLINGTON JUNIOR, J. R. (Ed.). Genetic resources of temperate fruit and nut crops. Wageningen: International Society for Horticultural Science, 1991. p. 175-231.

Scorza, R.; Sherman, W. B. Peaches. In: JANICK, J.; MOORE, J. N. (Ed.) Fruit breeding, tree and tropical fruit: temperate fruits. New York: J. Wiley, 1996. p. 325-440.

SOTO, F. G. Situación actual y perspectives del sistema producto durazno. In: CONGRESO NACIONAL DEL SISTEMA-PRODUCTO DURAZNO, 2005, Uruapan. Programa y memoria de resúmenes. Uruapan: Facultad de Agrobiologia “Pte Juárez”, 2005. p. 2-3.

WANG, Y. Peach growing and germoplasm in China. Acta Horticulturae, Verona, v. 173, p. 51-55, 1985.

WARGOVICH, M. J. Anticancer properties of fruits and vegetables. HortScience, Alexandria, v. 35, p. 573-575, 2000.

WATKINS, R. Cherry, plum, peach, apricot and almond. In: SMARTT, J.; SIMMONDS, N. W. (Ed.) Evolution of crop plants. London: Longman, 1995. p. 423-429.

ZANETTE, F.; BIASI, L. A. Introdução a fruteiras de caroço. In: MONTEIRO, L. B.; DE MIO, L. L. M.; SERRAT, B. M.; MOTTA, A. C.; CUQUEL, F. L. Fruteiras de caroço: uma visão ecológica. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2004. p. 1-4.