As altas temperaturas do verão trazem consigo excessivas chuvas que
influenciam diretamente a produção de hortaliças. Segundo dados do
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), durante o mês de dezembro,
Brasília registrou 27 dias chuvosos e totalizou cerca de 300 milímetros
de precipitação.
Com isso, o clima torna-se uma preocupação para o horticultor, uma vez
que proporcionalmente ao aumento das chuvas está a ocorrência de
doenças, principalmente em cultivos mais suscetíveis como o de folhosas
e solanáceas (tomate, batata, pimentão, etc.).
O pesquisador Ailton Reis, fitopatologista da Embrapa Hortaliças
(Brasília-DF), informa que neste período “as perdas nas lavouras de
hortaliças podem atingir entre 50-100% devido ao aumento da severidade
de doenças foliares, incidência de podridões em frutos, redução na
disponibilidade de pólen, queda prematura de flores e aborto de frutos”.
Todavia, se o verão chuvoso traz uma série de riscos para a produção de
hortaliças, o mercado compensa com os altos preços praticados nesta
época do ano. Além de haver um maior consumo de saladas nesta estação,
a dificuldade em ofertar produtos de qualidade, devido às doenças, faz
com que os valores mantenham-se em alta.
O pesquisador Carlos Lopes, também fitopatologista da Unidade, ressalta
que o fator econômico prevalece, apesar da recomendação técnica para
que em tempos de chuva o horticultor opte por produtos mais resistentes
ao excesso de umidade. “Na hora de ponderar, o produtor observa que
mesmo com o alto risco de perdas, a parte que vai para comercialização
obtém preços vantajosos que asseguram o retorno financeiro”, afirma.
Assim, uma vez que escolha correr riscos, o produtor de hortaliças pode
adotar o controle integrado para minimizar os impactos negativos na
produção. Para Ailton Reis, “é fundamental o uso de mudas e sementes
sadias e de variedades com genes de resistência a doenças e tolerância
ao excesso de umidade”. Ele também alerta que o uso de híbridos
importados, desenvolvidos em clima ameno e com ausência de chuvas
intensas, pode trazer um risco adicional para a produção.
Já o pesquisador Lopes indica o cultivo protegido das hortaliças como
forma de minimizar os riscos de perdas e obter maiores ganhos. “Embora
acarrete um maior custo de produção, o cultivo protegido facilita a
colheita de produtos de melhor qualidade”, assevera.
Doenças frequentes
No período chuvoso, os prejuízos originados por doenças bacterianas têm
maiores proporções, visto que estes patógenos dependem da água durante
os processos de penetração, colonização, infecção e disseminação. Entre
as bacterioses mais comuns em hortaliças nesta época estão a canela
preta da batata e a mancha bacteriana do tomateiro, da pimenta e da
alface.
Em relação às doenças fúngicas, a maior incidência no verão deve-se à
diminuição da eficácia dos defensivos químicos que, por conta do
excesso de chuva, tem reduzido o período de cobertura das folhas. Além
disso, neste período, as condições são mais favoráveis à ocorrência
destas doenças, cujas mais frequentes são a mancha-de-septória (alface
e tomate) e a pinta-preta e a requeima (batata e tomate).
Quanto aos nematoides, o excesso de chuva aliado às altas temperaturas
favorece um ciclo de vida mais rápido e uma disseminação mais acelerada
deste patógeno nas áreas de plantação, causando também grandes perdas.
Redução dos danos
Em artigo intitulado “Plantio de hortaliças no período de chuvas requer
manejo adequado”, os pesquisadores Ailton Reis e Leonardo Boiteux
traçam um panorama sobre as doenças recorrentes em períodos chuvosos e
elencam as principais práticas culturais para reduzir os danos
ocasionados pela alta incidência de chuvas.
Entre os manejos e práticas sugeridas estão: escolha de sementes
sadias, limpeza de implementos e ferramentas, aplicação preventiva de
agrotóxicos, escolha criteriosa da área de cultivo, utilização de
canteiros mais altos, rotação de cultura, entre outros.
Fonte: Embrapa